25 nov, 2018 - 22:10 • João Cunha , João Carlos Malta
Vários doentes em todo o mundo estão em sofrimento e muitos morreram em resultado de dispositivos médicos defeituosos que foram autorizados a entrar no mercado devido a um sistema fundado em má regulamentação, regras negligentes nos testes e falta de transparência.
No total, este material defeituoso fez 83 mil mortes em todo o mundo, na última década, e estão a provocar lesões em quase dois milhões de pessoas.
Estas são as conclusões de um estudo feito pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de investigação que junta 252 repórteres de 59 organizações de média de 36 países, que envolvem um negócio de 353 mil milhões de euros.
O trabalho de investigação expõe as falhas na regulação dos aparelhos médicos como pacemakers, ancas artificiais, contracetivos e implantes mamários . Estes dispositivos causaram lesões e tiveram como consequência que muitos doentes fossem submetidos a operações de acompanhamento e, em alguns casos, a perder a vida.
Os doentes em causa não foram alertadas para os perigos
Em alguns casos, os implantes não foram testados em pacientes antes de serem autorizados a entrar no mercado.
Só no Reino Unido, os reguladores receberam 62.000 relatórios de “incidentes” relacionados a dispositivos médicos entre 2015 e 2018.
Um terço dos incidentes teve sérias repercussões para o paciente, e 1.004 resultaram em morte.
Nos EUA, a Food and Drug Administration (FDA) recolheu 5,4 milhões de relatórios onde foram detetados na última década, alguns dos fabricantes relataram problemas em outras partes do mundo.
Segundo a investigação, publicada, entre outros, pelo diário britânico "The Guardian", as agências reguladoras, os administradores hospitalares e até os médicos sujeitam-se ao lobby de uma indústria bilionária, que não olha a meios para alcançar os seus objetivos.
A investigação de um ano descobriu que autoridades de saúde em todo o mundo têm fracassado na protecção dos milhões de doentes sujeitos a próteses que, testadas de forma inadequada, podem perfurar órgãos, dar choques no coração, apodrecer os ossos e envenenar a corrente sanguínea, ejetar uma overdose de opioides e causar outros danos desnecessários.
Os dados referem-se apenas à Europa e dos Estados Unidos, porque em dezenas de países na África, Ásia e América do Sul não existe um sistema de regulamentação própria para dispositivos médicos.
Por isso, confiam nas autoridades europeias e na Food and Drug Administration, a FDA, reconhecida por fazer uma supervisão mais robusta do que qualquer outra organização de saúde do mundo.
Só que essa supervisão foi altamente ineficiente, com dispositivos aprovados muito depressa pelas autoridades norte- americanas, sem testes e exames prévios.