01 dez, 2018 - 01:26
O presidente americano, Donald Trump, impôs sua marca à cúpula do G20, realizada em Buenos Aires num ambiente de tensão adensado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia e pela "guerra comercial" entre Estados Unidos e China.
Face aos antecedentes a esta reunião, nada leva a pensar que haverá um consenso no fórum que reúne até sábado as 20 economias mais potentes e emergentes do planeta, e que tem entre os seus convidados o presidente russo, Vladimir Putin, o chinês Xi Jinping, e o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman.
Depois de Trump ter cancelado o encontro que os dois haviam marcado, Putin mostrou o seu espírito combativo ao denunciar as "práticas viciosas" das "sanções unilaterais" e do protecionismo comercial.
Durante a fotografia de grupo da cimeira, os dois chefes de Estado evitaram-se e não se cumprimentaram.
No que tem sido um dos poucos momentos de consenso, Estados Unidos, México e Canadá assinaram um novo tratado de livre-comércio após meses de tensão, idas e vindas. Batizado T-MEC pelos mexicanos, o acordo substitui o NAFTA, que regia o comércio entre estes três países desde 1994 e que foi quebrado por Trump.
Os principais líderes mundiais também deram as boas-vindas ao príncipe herdeiro saudita, evitando isolá-lo nesta viagem, a primeira que realiza desde que o jornalista Jamal Khashoggi foi assassinado no consulado do seu país em Istambul, na Turquia.
Protestos nas ruas de Buenos Aires
Dezenas de milhares de argentinos manifestaram-se numa Buenos Aires praticamente deserta e sob um forte dispositivo de segurança que limitou aos mínimos básicos o serviço de transportes públicos.
Com grandes cartazes a dizer "Fora Trump" e "Fora FMI", os manifestantes percorreram a central Avenida 9 de Julho, cujas ruas adjacentes foram bloqueadas com cercas metálicas vigiadas por 2.500 agentes e guardas de infantaria.
"Viemo-nos manifestar, repudiar os representantes das potências imperialistas e queremos que saibam que não são bem-vindos no nosso país", disse à AFP Florence di Llelo.
Devido à cúpula do G20, esta sexta-feira foi declarada feriado. Também foi suspenso o serviço de metro e de comboio, ambos dirigindo-se principalmente à periferia de Buenos Aires.
Comandando a marcha que ocupou seis quarteirões da avenida mais larga de Buenos Aires, avançaram líderes de organismos de defesa dos direitos humanos. A maioria dos manifestantes foi organizada, principalmente, por movimentos de esquerda e antiglobalização. "Acreditamos que o G20 atenta contra o país", criticou Matías Gómez, delegado de uma cooperativa.
Encontro Trump-Xi centra atenções
A reunião de sábado entre Trump e seu homólogo chinês será o ponto alto do primeiro G20 na América do Sul. Governos, mercados e empresas aguardarão os resultados desta comitiva.
O presidente americano disse ver "bons sinais" nas relações comerciais entre os dois países, mas também se mostrou reticente a um acordo nas últimas horas. "Acho que estamos muito perto de fazer algo com a China, mas não sei se quero fazê-lo", disse Trump antes de iniciar a sua viagem.
Ao exigir que Pequim acabe com as suas práticas comerciais, Trump impôs tarifas que chegaram a 300 milhares de milhões de dólares, incluindo 250 milhares de milhões de dólares sobre produtos chineses, e afetaram as importações de aço e alumínio de outros países.
A China não demorou a reagir com medidas recíprocas, o que alimentou a "guerra comercial" que os analistas temem que possa atingir a economia mundial.
A próxima série de aumentos está prevista para dia 1 de janeiro de 2019, quando as tarifas dos Estados Unidos sobre as importações chinesas no valor de 200 milhares de milhões de dólares poderão subir de 10% a 25% se os dois gigantes não chegarem a um acordo.
Relação EUA – Rússia arrefeceu?
Antes de deixar Washington, Trump cancelou o seu encontro previsto na Argentina com seu colega russo, devido ao conflito com a Ucrânia.
As tensões entre Kiev e Moscovo alcançaram o seu auge após a Rússia ter apresado três navios militares ucranianos em frente à costa da Crimeia. Como reação, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, alertou sobre "a ameaça de uma guerra total" com a Rússia.
A anulação do encontro acontece em plena controvérsia nos Estados Unidos sobre novas revelações na investigação de uma suposta interferência da Rússia na campanha presidencial de 2016.
O porta-voz do Kremlin disse esta sexta-feira que Vladimir Putin está disposto a retomar o diálogo com Donald Trump.
O presidente americano reiterou a sua inocência em relação a um acordo imobiliário com Moscovo que faz parte da investigação. "Caça às bruxas", twittou.
A polémica está mais viva que nunca, depois de Michael Cohen, seu antigo advogado e amigo próximo, se ter declarado culpado de mentir ao Congresso sobre um negócio imobiliário de Trump em Moscovo para limitar a investigação sobre a ingerência russa na campanha eleitoral.
Trump também deve medir forças com o presidente da França, Emmanuel Macron, que pretende incluir o aquecimento global nos primeiros pontos da agenda do G20, antes da conferência sobre clima COP24, em 2 de dezembro, na Polónia.
Mas o presidente americano, que não se cansa de questionar as alterações climáticas, retirou o seu país dos acordos ambientais de Paris em junho de 2017, pouco depois de chegar à Casa Branca.