13 dez, 2018 - 14:04
O Governo internacionalmente reconhecido do Iémen alcançou esta quinta-feira um acordo com o representante dos hutis para uma trégua na cidade de Hudheida, cujo porto marítimo representa a principal ligação do país ao resto do mundo.
Num encontro perto de Estocolmo, na Suécia, o ministro iemenita dos Negócios Estrangeiros, Khaled al-Yaman, e o chefe da delegação huti, Mohammed Abdul-Salam, chegaram a um acordo que António Guterres espera que seja "o ponto de partida para acabar com a crise humanitária" no país - a pior dos últimos anos a nível mundial.
Desde que a coligação liderada pelos sauditas deu início a bombardeamentos ao país para destronar os rebeldes hutis, pelo menos 85 mil crianças com menos de cinco anos morreram à fome. Segundo cálculos da ONU, cerca de 56 mil pessoas já morreram e outras 22 milhões precisam de apoio humanitário urgente, mais de 11 milhões delas crianças.
A crise começou em 2014, quando os hutis, uma tribo xiita com ligações ao Irão, expulsaram o executivo de Abd-Rabbu Mansour Hadi da capital, Sanaa. Hadi tornou-se Presidente do Iémen com a ajuda da Arábia Saudita após a revolta contra o ditador Ali Abdullah Saleh no âmbito dos protestos da Primavera Árabe.
Desde então, o país passou a estar sob intensos bombardeamentos indiscriminados da coligação chefiada pelos sauditas, após os rebeldes hutis terem passado a controlar grande parte dos centros urbanos do país, incluindo Sanaa e Hudheida, a cidade portuária no mar Vermelho onde agora se espera que entre em vigor esta trégua.
Pela primeira vez em dois anos, as Nações Unidas ao leme do português António Guterres conseguiram sentar à mesa de negociações o Governo internacionalmente reconhecido do Iémen e um representante dos hutis para tentar abrir caminho à paz no país.
O aperto de mão entre ambos esta quinta-feira, sob o olhar atento do secretário-geral da ONU, alimenta esperanças nesse sentido. "Chegaram a um acordo sobre o porto de Hudheida e a cidade vai ser cenário de um reposicionamento mútuo de forças e do estabelecimento de um cessar-fogo geral na província", anunciou o antigo primeiro-ministro português. E acrescentou: "A ONU vai desempenhar um papel crucial no porto e isto vai facilitar o acesso humanitário e o fluxo de bens para a população civil, e vai melhorar a vida de milhões de iemenitas."