13 dez, 2018 - 14:29
Esta quinta-feira é dia de moção de censura ao Governo francês. Em causa está a contestação social iniciada pelo movimento dos “coletes amarelos”, a que o Presidente Emmanuel Macron já respondeu com várias medidas.
Juntas, as anunciadas poderão custar cerca de 10 mil milhões de euros aos cofres do Estado francês.
Por isso, e porque as forças de segurança precisam de se concentrar na busca ao terrorista do mercado de Estrasburgo, o Governo deixou hoje um apelo aos manifestantes: sejam "razoáveis".
"Neste momento, decidimos não proibir as manifestações", anunciou o porta-voz do Governo, Benjamin Griveaux, ao canal CNews.
A revolta dos "coletes amarelos" já "foi ouvida" e foi "respondida", insistiu Griveaux, em referência às medidas anunciadas na segunda-feira pelo Presidente francês para aumentar o poder de compra dos assalariados e reformados mais carenciados.
"As nossas forças policiais e de segurança foram colocadas a trabalhar exaustivamente nas últimas semanas", pelo que "seria uma boa ideia não sobrecarregar os barcos", defendeu ainda.
Mais de 700 polícias e ‘gendarmes’ (polícia militarizada) estão mobilizados no âmbito do atentado em Estrasburgo, em busca do alegado autor, Cherif Chekatt.
Moção sem pernas para andar
O Governo de Emmanuel Macron enfrenta esta quinta-feira uma moção de censura submetida pelo Partido Comunista, o Partido Socialista e a extrema-esquerda populista do movimento França Insubmissa (La France Insoumise).
Mas as hipóteses de Macron cair são mínimas, dado que o seu partido (República em Movimento) detém a maioria na Assembleia Nacional, com 309 deputados, e conta ainda com o apoio dos grupos mais centristas, que elevam em cerca de 74 o número de votos pró-Macron.
Além disso, apenas 62 dos 577 deputados do Parlamento francês assinaram a moção de censura.
“Essa moção não tem rigorosamente qualquer hipótese”, diz à Renascença o português que é conselheiro da Câmara de Paris, Hermano Sanches Ruivo.
Mas o Presidente está numa situação mais fragilizada, depois dos protestos, das cedências e do atentado terrorista em Estrasburgo, na terça-feira.
“O sentimento é que claramente [a contestação] vai passar para outro nível, de menos mobilização. Resta saber como é que os radicais vão deixar de aproveitar esta situação”, afirma.
O último Governo francês a ser destituído era liderado por Georges Pompidou, em 1962.
Sem alternativas à vista
Na origem da moção de censura (que será votada esta quinta-feira à tarde) está a contestação social iniciada pelo movimento dos “coletes amarelos”, que nas duas últimas semanas se radicalizou, dando origem a atos de grande violência.
As sondagens – como a mais recente, do “Le Point” - mostram que Macron tem níveis de popularidade cada vez mais baixos, situando-se agora nos 20%. Só desde o início do protesto dos “coletes amarelos”, perdeu 6%.
E, mesmo que acalme, a contestação deverá continuar. É essa, pelo menos, a opinião do conselheiro consular eleito pelos franceses em Portugal.
“Hoje, infelizmente, receio que sim. Enquanto ninguém conseguir congregar os franceses à volta de uma solução e de qualquer coisa que os motive. O que eu não sei é quem é que pode trazer esta solução de abrangência”, afirma Laurent Goater á Renascença.
“Não é seguramente Marine Le Pen, também não é seguramente Mélenchon. Não pode ser ninguém que venha das forças clássicas e não estamos a ver ninguém da sociedade civil que tome uma posição de poder liderar isto. Portanto, é extremamente preocupante”, lamenta.
No entender deste representante diplomático, a França vive assim um momento grave.
“Na lógia de curto prazo, os franceses estão preocupadíssimos, as cidades já não funcionam bem. Estamos numa quadra natalícia e os comerciantes estão extremamente preocupados, porque não estão a fazer dinheiro e não sabe como vão pagar algumas das suas despesas. Numa lógica um bocadinho mais e longo prazo, é um bocadinho a confirmação de que, infelizmente, Macron não conseguiu trazer à França uma renovação do ambiente político”, começa por explicar.
“Acho que o que é muito grave aqui é verificar claramente que essa expectativa falhou claramente e conseguiu fazer pior do que Hollande e Sarkozy em termos de gerir as inquietações da sociedade francesa”, termina.