15 jan, 2019 - 19:40 • Ricardo Vieira, Rui Barros e Joana Azevedo Viana
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Os deputados britânicos chumbaram esta terça-feira o acordo para uma saída ordenada alcançado entre o Reino Unido e a União Europeia.
Um total de 432 parlamentares votaram contra o entendimento. Apenas 202 pronunciaram-se favoravelmente.
Foi a maior derrota parlamentar para um primeiro-ministro britânico na era moderna, por 230 votos de diferença.
Este resultado significa que muitos deputados do Partido Conservador, da primeira-minstra Theresa May, votaram contra o acordo para o Brexit.
Theresa May lamentou a decisão, mas disse que o Governo respeita a decisão da Câmara dos Comuns e que vai apresentar uma moção nos próximos nos próximos dias.
"O Governo respeita a vontade da Câmara e, como tal, faremos uma declaração sobre o rumo a tomar, apresentando até segunda-feira uma moção passível de alteração. A segunda garantia é feita ao povo britânico que votou a favor da saída da União Europeia: assumi o cargo do primeira-ministra imediatamente após o referendo, julgo ser meu dever respeitar o resultado e tenciona fazê-lo.”
May diz que o “Governo ouviu o que o Parlamento disse hoje", mas também pede "aos deputados que ouçam o povo britânico”.
“Ficou claro que a Câmara não apoia este acordo. Mas o voto desta noite não nos diz nada sobre o que ela apoia. Nada sobre como - ou mesmo se - pretende honrar a decisão tomada pelo povo britânico no referendo que o parlamento decidiu realizar”, atirou.
Os europeus residentes no Reino Unido e os britânicos a viver na UE "merecem uma resposta clara o mais depressa possível", sublinhou.
Acordo chumbado e moção de censura
O Partido Trabalhista, na oposição, já anunciou uma moção de censura ao Governo de Theresa May, que tem reduzidas hipóteses de ser bem-sucedida por falta de apoio dos restantes deputados.
"Esta é uma derrota catastrófica. O Parlamento entregou o seu veredito sobre o acordo dela. Atrasar e negar chegou ao fim da linha", declarou o líder trabalhista, Jeremy Corbyn.
Na resposta, Theresa May já disse acreditar que o seu Governo tem a confiança do Parlamento. A moção de censura será debatida amanhã, quarta-feira.
A rejeição do acordo para o Brexit mergulha o Reino Unido numa das suas maiores crises políticas em décadas.
A saída do Reino Unido da UE está marcada para 29 de março.
"O tempo está a esgotar-se"
Numa primeira reação, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, lamentou a decisão do Parlamento britânico e pede ao Reino Unido que clarifique as suas intenções o mais depressa possível. "O tempo está quase a esgotar", escreveu Jucker no Twitter.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, defendeu a continuidade do Reino Unido na UE. "Se um acordo é impossível e ninguém quer um acordo, então quem vai ter finalmente a coragem de dizer qual é a única solução positiva?", escreveu no Twitter.
No debate que antecedeu a votação, o líder trabalhista tinha defendido que a melhor solução para resolver o actual bloqueio parlamentar era convocar eleições gerais.
No seu discurso na Câmara dos Comuns, Jeremy Corbyn apelou aos membros da câmara parlamentar que “votem contra este acordo”, um acordo que, para o líder trabalhista, é “um acordo mau para a economia, para a democracia e para o país”.
"O debate de hoje é o culminar de um dos processos parlamentares mais caóticos que vivi nesta casa", começou por dizer o principal líder da oposição, que recordou que “um dos antigos ministros para o Brexit” tinha prometido um plano “detalhado, preciso e substantivo”. Caracteristicas que, de acordo com o líder do “Labour”, não correspondem às do acordo que May submete ao voto esta terça-feira.
De acordo com o líder trabalhista, o acordo de May não protege os trabalhadores que temem que a saída da União Europeia.
Por sua vez, Theresa May acusou, ainda antes da votação, o líder trabalhista de não apresentar uma alternativa credível, acusando-o de falta de coerência.
"Tudo o que faz é para evitar decisões difíceis", afirmou a primeira-ministra, expondo várias contradições do líder da oposição trabalhista.
“Ele falhou na sua responsabilidade de apresentar uma alternativa credível a este governo", porque não se "importa se saímos com acordo ou sem, porque só se importa em continuar com a disrupção para chegar a eleições antecipadas”, tinha dito a primeira-ministra.