17 jan, 2019 - 18:27 • Tiago Palma
Esta quinta-feira tornou-se pública a carta que Gisele Bündchen enviou à ministra da Agricultura de Bolsonaro. Segundo Tereza Cristina, recorde-se, a modelo “é uma má brasileira”, pois, enquanto embaixadora da ONU para o Meio Ambiente, não deveria criticar as más práticas ambientais do seu país, nomeadamente a desflorestação da Amazónia.
“Devia dizer que o nosso país protege o ambiente, que o nosso país está na vanguarda da conservação e não andar a criticar o Brasil sem conhecer os factos”, atirou a ministra.
A modelo brasileira aproveitou a polémica para desmentir o Governo quanto à “grande quantidade” de áreas protegidas no país que este diz existir.
"Lamento ver notícias, como a do final de 2018, com dados do Governo Federal divulgados amplamente na imprensa, que dizem o desmatamento na Amazónia havia crescido mais de 13%, o que representava a pior marca em dez anos.” E conclui, Gisele: “Um património inestimável ameaçado pelo desmatamento ilegal e a grilagem de terras públicas. Estes sim são os ‘maus brasileiros’."
Antes mesmo da carta enviada à ministra, Gisele Bündchen já havia reagido nas redes sociais, dizendo-se “surpreendia” por ver o seu nome mencionado “de forma negativa”, apenas por, garante, “defender e me manifestar em favor do meio ambiente”.
Entretanto, Tereza Cristina agradeceu o envio da carta e prometeu convidar Gisele Bündchen para participar numa “agenda positiva” que una agricultura e preservação, "projetos que Gisele, com sua inteligência e sensibilidade , possa se envolver na divulgação".
Leia a carta de Gisele Bündchen na íntegra:
"Excelentíssima Senhora Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina.
Escrevo respeitosamente à senhora para me manifestar em relação a alguns comentários que foram feitos e que dizem respeito à minha pessoa em sua entrevista no dia 14 de janeiro ao veículo Jovem Pan. Causaram-me surpresa as referências negativas ao meu nome, pois tenho orgulho de ser brasileira e sempre representei meu país da melhor forma que pude.
Primeiramente, gostaria de dividir com a senhora um pouquinho da minha trajetória. Sou uma apaixonada pela natureza e tenho uma conexão muito forte com a terra. Nasci no interior do Brasil, onde a agricultura sempre foi fundamental para a economia e desenvolvimento de todos os municípios do entorno. Meus avós também praticavam agricultura familiar.
Valorizo e prezo muito o papel tão importante que a agricultura e os agricultores têm para o nosso país e nosso povo, mas ao mesmo tempo acredito que a produção agropecuária e a conservação ambiental precisam andar juntas, para que nosso desenvolvimento possa ser sustentável e longevo.
Desde 2006 venho apoiando projetos e me envolvendo com causas socioambientais no Brasil (através da doação de parte da renda da venda de produtos licenciados com meu nome a diversos projetos relacionados à água e florestas até o apoio e realização de projeto de reflorestamento de mata ciliar na minha cidade natal). Já visitei a Amazónia algumas vezes e conheci de perto a realidade da região norte de nosso país. Em decorrência do meu trabalho relacionado ao meio ambiente fui convidada para ser Embaixadora da Boa Vontade da ONU para o Meio Ambiente e também pelo presidente da França para participar do lançamento do Pacto Global para o Meio Ambiente na Assembleia Geral da ONU nos Estados Unidos, além de ter participado de inúmeros encontros com presidentes de empresas, universidades, cientistas, pesquisadores, agricultores e organizações do meio ambiente, onde pude trocar informações e aprender cada vez mais sobre como cuidar do nosso planeta.
Tendo ciência, através de diferentes fontes de informação, do alto grau de comprometimento e irreversibilidade que algumas ações governamentais poderiam trazer ao meio ambiente, como cidadã brasileira preocupada com os rumos da minha nação resolvi, em algumas oportunidades que entendi críticas e merecedoras de atenção, me manifestar.
A Senhora mencionou a grande quantidade de áreas protegidas no Brasil. Lamento, no entanto, ver notícias, como a do final do ano de 2018, com dados do Governo Federal divulgados amplamente na imprensa, que o desmatamento na Amazónia havia crescido mais de 13%, o que representava a pior marca em 10 anos. Um património inestimável ameaçado pelo desmatamento ilegal e a grilagem de terras públicas. Estes sim são os ‘maus brasileiros’.
Precisamos usar a tecnologia e todo conhecimento científico a favor da agricultura e da produtividade para que evitemos que novos desmatamentos possam ultrapassar o ponto de não retorno em que a degradação em curso do clima ameno se tornará irreversível.
Vejo a preservação da natureza não somente como um dever ambiental legal, mas também como uma forma de assegurar água, biodiversidade e condições climáticas essenciais para a produção agrícola.
Cara Ministra Teresa Cristina, seu papel como ministra da Agricultura – em um país onde clima, agricultura e floresta têm papel chave para nossa economia – é fundamental. Sei do desafio que tem pela frente e torço para que em seu mandato possam ser celebradas ações concretas que resultem em um Brasil mais sustentável, justo e próspero.
Ficarei muito feliz em poder divulgar ações positivas que forem tomadas neste sentido.
Com respeito,
Gisele Bündchen"