24 jan, 2019 - 19:39 • Redação
Um tribunal de Itália declarou esta quinta-feira que o vice-primeiro-ministro e também ministro do Interior do atual Governo, Matteo Salvini, pode ser levado a julgamento por rapto.
Em causa está um inquérito aberto pela procuradoria de Palermo, na Sicília, no ano passado, por alegado abuso de poder e sequestro, depois de Salvini ter impedido 150 requerentes de asilo de desembarcarem de um navio humanitário durante seis dias.
Os migrantes acabariam por ser autorizados a desembarcar na Sicília, mas o caso levou Salvini a bloquear a atracagem de navios humanitários em todos os portos do país, um bloqueio que continua em vigor até hoje.
Depois da abertura da investigação ao líder da Liga, partido de extrema-direita e anti-imigração, um tribunal especial italiano responsável por analisar inquéritos que envolvem ministros em funções rejeitou esta quinta-feira as recomendações da procuradoria-geral para que o processo fosse suspenso, dizendo que Salvini pode efetivamente ser julgado por rapto.
Com isto, cabe agora ao Senado decidir se Salvini é levado a julgamento.
"Arrisco entre três a 15 anos de prisão por ter impedido migrantes ilícitos de virem para Itália. Estou sem palavras", reagiu Salvini no Twitter.
"Pergunto ao povo italiano: devo continuar a ser ministro [do Interior], exercendo os meus direitos e deveres, ou devo pedir a este ou àquele tribunal para [decidirem] políticas de imigração?",acrescentou num outro tweet.
O vice-primeiro-ministro diz que está confiante no apoio dos senadores do seu partido. Já o apoio dos legisladores do seu parceiro de coligação, o MoVimento 5 Estrelas (M5E), é menos certo, apontam os media italianos.
Uma das bases do MoVimento desde a sua fundação tem sido exigir a resignação de qualquer político que seja investigado pelas autoridades.
Há dois anos, quando foi aberto um inquérito judicial ao então ministro do Interior, Angelino Alfano, os deputados do M5E exigiram a sua resignação. Ainda não se sabe de que forma é que o partido vai posicionar-se face a este caso.
A escolha que o partido fizer vai determinar o seu futuro político; se optarem por defender Salvini, os deputados do M5E arriscam minar o seu próprio posicionamento moral e ideológico.
Salvini, entretanto, já deixou claro que não vai alterar a sua posição quanto ao acolhimento de migantes. "Deixem-me ser totalmente claro: não vou mudar a minha posição nem um milímetro. Barcos, pequenos barcos, grandes barcos - ninguém vai desembarcar dos barcos em Itália."