25 jan, 2019 - 16:39 • Redação
Uma barragem de contenção de resíduos gerida pela empresa mineira Vale colapsou na sexta-feira em Minas Gerais, no sudeste do Brasil.
O acidente ocorreu pelas 13h30 locais (mais duas horas em Lisboa), na localidade de Brumadinho.
Este sábado, o balanço de desaparecidos foi revisto para 299 pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Pelas 19h30 em Lisboa, as autoridades confirmaram a existência de 40 mortos, um número que deverá continuar a aumentar à medida que avançam as operações de resgate e salvamento.
Ao final do dia, o Corpo de Bombeiros avança que 366 pessoas foram resgatadas, sendo 221 funcionários da empresa que explora a barragem mais 145 pessoas, e, destes, 23 estão hospitalizados.
As buscas foram interrompidas às 20h00 locais e retornarão a partir de 4h00 da manhã de domingo.
Horas antes, os bombeiros anunciaram que encontraram um autocarro com vítimas mortais do incidente, todas funcionários da empresa mineira.
Em comunicado, a Vale divulgou esta manhã os nomes de 412 trabalhadores que estavam no local quando o desastre aconteceu e que continuam desaparecidos, pelo que os números reais deverão ser superiores ao balanço atual.
Em menos de 24 horas, as autoridades já conseguiram resgatar mais de 180 pessoas. Neste momento, 100 bombeiros e cerca de 200 socorristas continuam em busca de sobreviventes, apoiados por 13 helicópteros.
Esta manhã, o recém-empossado Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, sobrevoou a zona da tragédia, após ter ordenado ao Governo federal que criasse um gabinete de crise para acompanhar a situação.
O CEO da Vale SA veio explicar que a maioria dos trabalhadores estava a almoçar na altura do acidente. Fabio Schvartsman garante ainda que a empresa está agora a monitorizar outras barragens semelhantes espalhadas pelo país.
Brumadinho, onde está localizada a barragem do Córrego do Feijão, fica na zona metropolitana de Belo Horionte, a capital de Minas Gerais.
As primeiras imagens partilhadas nas redes sociais ontem ao final do dia mostram uma enxurrada de água e lama a arrastar tudo à sua passagem, incluindo casas e pessoas.
No rescaldo imediato do acidente, as autarquias banhadas pelo rio Paraopeba alertaram os moradores para que se mantenham longe do curso de água. Toda a zona ao redor da barragem foi evacuada.
Reações ao "desastre anunciado"
Em entrevista à rádio regional FM Brumadinho ontem, Bolsonaro disse que este acidente podia ter sido evitado.
"A gente lamenta profundamente o ocorrido. A gente sabe que, a princípio, esse tipo de acidente pode ser evitado, sim. Nós temos, só em Minas Gerais, em torno de 450 represas que acumulam esses resíduos que vêm da mineração."
O caso de Brumadinho ocorre pouco mais de três anos depois do desastre de Mariana, quando uma barragem de contenção de resíduos de mineração da Samarco, uma "joint venture" da Vale e da BHP, colapsou, também em Minas Gerais. Esse acidente tornou-se no maior desastre ambiental do Brasil até hoje, tendo provocado 19 mortos.
Marina Silva, ex-ministra do Ambiente e candidata às presidenciais de 2018, já veio tecer críticas, no Twitter, às autoridades brasileiras e às empresas privadas de exploração de minas, acusando-as de não terem aprendido nada com o desastre de 2015.
A barragem de Brumadinho está classificada pela Agência Nacional de Mineração (AMN) como uma estrutura de “baixo risco”, categoria referente à possibilidade de ocorrência de desastres como este.
Por outro lado, segundo informações do Cadastro Anual de Barragens, os potenciais danos na sequência de um colapso daquela infraestrutura em particular são classificados como altos.
Citado pela revista "Veja", Marcus Polignano, coordenador do projeto Manuelzão, que monitoriza as bacias hidrográficas de Minas Gerais, diz que "isto não é um acidente, é uma tragédia anunciada" e que a situação ainda pode piorar.
"À medida que a própria água se infiltra na barragem, ela pode romper com a base", explicou. Sobre o desastre anunciado, adianta: "Não houve nem precipitação pluviométrica significativa nesse momento. Nós estamos sem chuva. Isso prova que a insegurança da barragem foi total. Ela rompeu por si mesma, não houve nenhum fenómeno externo para alavancar o processo. Depois de Mariana, não mudámos uma vírgula do processo de mineração e fiscalização. Isso não é um acidente, é uma tragédia anunciada.”
O Ministério de Minas e Energia (MME) diz que vai aguardar por mais detalhes sobre o desastre para tomar providências. Em comunicado, o MME disse que os seus dirigentes "estão reunidos e em contacto permanente com as autoridades locais e com o governo de Minas Gerais para obter maior detalhamento do ocorrido e tomar as providências necessárias no âmbito da competência do Ministério".
Num comunicado enviado às redações brasileiras, a empresa Vale, maior produtora mundial de minério de ferro e gestora da barragem, confirmou o colapso da infraestrutura e diz que ativou o seu Plano de Atendimento a Emergências para Barragens.
"A prioridade total da Vale, neste momento, é preservar e proteger a vida de empregados e de integrantes da comunidade", lê-se no documento, no qual é dito que não há confirmação de vítimas nem das causas do acidente.
Pelo contrário, os bombeiros de Minas Gerais mobilizados no local dizem que haverá "vários mortos" e já confirmaram que pelo menos 200 pessoas estão desaparecidas.
A Secretaria de Estado de Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) garante que a mina do Feijão e a barragem "estão devidamente licenciadas", tendo dito em comunicado que "as causas e responsabilidades pelo ocorrido serão apuradas pelo governo de Minas Gerais".
[Atualizado às 23h15 de 26 de janeiro]