30 jan, 2019 - 01:05 • Hugo Monteiro, com redação
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Da próxima vez que rebentar uma barragem no Brasil podem morrer “10 mil ou 20 mil pessoas”. O aviso é deixado por João Vitor Xavier, deputado estadual por Minas Gerais, em entrevista à Renascença.
No rescaldo da tragédia da barragem de Brumadinho, que provocou pelo menos 84 mortos e 276 desaparecidos, João Vitor Xavier, membro da comissão de Minas e Energia, fala numa “tragédia anunciada”.
“É muito grave nós termos um estado maior do que Portugal – Minas Gerais é quase do tamanho da França - com 432 barragens como essa [Brumadinho] e cerca de sete milhões de pessoas que vivem à volta dessas barragens. O que aconteceu em Brumadinho pode acontecer a qualquer momento em diversas outras cidades”, alerta.
O deputado estadual apresentou, no passado, um projeto para tornar as barragens mais seguras, que acabou por ser rejeitado.
O parlamento estadual reabre a 1 de fevereiro e João Vitor Xavier vai insistir e voltar a colocar o projeto de lei em cima da mesa.
“Espero que possamos aglutinar forças para aprovar esse projeto”, afirma.
Indústria mineira travou regulação
A proposta para aumentar a regulação e segurança das barragens ainda não passou no parlamento de Minas Gerais porque “o setor mineiro tem muita força no nosso estado, até porque é um setor muito rico e poderoso, que gera muito emprego”.
“Eles contestaram o projeto com o argumento de que inviabilizaria a mineração no estado de Minas Gerais, o que eu não acredito”, argumenta João Vitor Xavier.
Nesta entrevista à Renascença, o deputado garante que a indústria mineira “iria sofrer um impacto do ponto de vista económico, mas seria infinitamente inferior ao sofrido com a rutura dessa barragem. Só na segunda-feira, a Vale perdeu 25 mil milhões de euros em valor de mercado”.
O projeto de lei “obrigava as empresas mineradoras a utilizar o método de construção mais segura tecnicamente e não o mais barato, proibia as barragens de serem expandidas, porque hoje você aprova um projeto de licenciamento ambiental para construir uma barragem de dez metros, daqui a 30 anos ela tem cem metros”.
Proibia também que fossem construídas barragens a montante de cidades.
“Está todo o mundo muito assustado como é que a Vale colocou um refeitório abaixo de uma barragem e o que acontece aqui é que nós temos cidades com milhares de pessoas abaixo da barragem. Se uma barragem romper acima de uma cidade, e isso pode acontecer a qualquer momento, em vez de termos 300 mortos, que já é um absurdo inaceitável, nós teremos aproximadamente 10 ou 20 mil mortos”, alerta João Vitor Xavier.
Esta terça-feira, foram detidos três engenheiros da Vale e dois empreiteiros foram detidos, na sequência da investigação ao rebentamento da barragem de Brumadinho.
O deputado afirma que estas detenções são apenas o início de um processo de investigação “muito longo e duro”, mas considera que a grande responsável pela tragédia é, “sem sombra de dúvida”, a multinacional Vale.
“A maior responsabilidade, sem sombra de dúvidas, é da Vale, uma companhia multinacional que era a operadora do projeto de mineração, era a operadora da mina e da barragem. Ela é a maior responsável pela tragédia na cidade de Brumadinho. Terá de responder, com a sua direção, por essa tragédia que jamais será esquecida no nosso estado e no nosso país”, conclui.