06 fev, 2019 - 16:49 • José Carlos Silva
Gil Andrade já foi presidente do Centro Português de Caracas. Hoje mantém o negócio dos seguros, apenas mais um que se afunda no pântano da crise num país onde Juan Guaidó surge como a tábua de salvação.
“A situação que vivemos é insuportável, é complicadíssima”, garante em entrevista à Renascença.
Gil Enio Andrade diz que já ninguém aguenta mais. “Até as pessoas de estrato social mais baixo, que antes apoiavam a revolução e o Presidente Nicolás Maduro, já não o apoiam perante a fome e a miséria que vivem.”
Onde antes o petróleo jorrava com força na economia, e agora que perdeu muita força, há grande esperança depositada na figura desconhecida do homem que tomou as rédeas do país, autoproclamando-se Presidente interino.
Juan Guaidó, político de 35 anos que dirige o partido da oposição Vontade Popular, bem como a Assembleia Nacional, é o depositário da esperança de uma parte substancial do povo venezuelano, que marcha a caminho das fronteiras com outros países, de haveres e crianças nas mãos e barrigas vazias.
Mas nem todos estão com ele. “Nicolás Maduro terá 10 a 15% do apoio da população, é o que dizem os especialistas e eu concordo”, sublinha o empresário luso, garantindo que, apesar de tudo, o Presidente eleito continua a perder apoios.
O empresário tem uma teoria. “Os ciclos políticos em qualquer país do mundo têm o seu tempo. E esse tempo parece estar a acabar para o atual governo. As pessoas querem mudança, querem algo diferente. E isso sente-se. Esperamos que, a qualquer momento, essa mudança se dê. E vai dar-se”, assegura.
A convicção na mudança atenua-se quando se tenta perceber se Guaidó será o homem certo para liderar a Venezuela no futuro.
Gil Andrade não embandeira em arco. “Guaidó é um desconhecido e tem uma aceitação enorme. Já dizem até que será o salvador da pátria, o que eu acho que é prematuro. Politicamente tudo muda, e o que pensamos hoje, amanhã pode não ser bem assim. Mas tem uma posição privilegiada”, remata.
Neste contexto, o empresário português tem uma única certeza. Se Nicolás Maduro cair, e com ele cair também a cúpula militar, e o país for a eleições democráticas e, na sequência disso, mudar para melhor, "uma alta percentagem dos portugueses que partiram vão voltar". Porquê? "Porque este é um país espetacular."