23 fev, 2019 - 22:07 • Lusa com Redação
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou hoje que aceitará uma oferta da União Europeia para introduzir "legalmente" ajuda humanitária no país.
"Aceitamos ajuda humanitária da União Europeia, ajuda legal", disse.
Nicolás Maduro falava em Caracas, para milhares de simpatizantes que hoje marcharam em apoio à revolução bolivariana.
O Presidente da Venezuela começou por explicar que tem grandes diferenças com a União Europeia (UE), mas que aceita a ajuda, com coordenação da Organização das Nações Unidas (ONU).
"A UE, com quem temos grandes diferenças, mandou uma comissão de diálogo, que foi recebida pelo ministro de Relações Exteriores (Jorge Arreaza) e a vice-presidente executiva (Delcy Rodr Rodriguez), e nos fez saber que estavam na disposição de dar assistência e apoio humanitário à Venezuela, legal e formalmente", explicou.
"Estão (outros) a bloquear-nos os medicamentos, e entregámos-lhes a listagem completa de medicamentos. Estão a bloquear-nos os alimentos, e entregámos-lhes uma lista com as necessidades", detalhou o Presidente da Venezuela.
"E dissemos-lhes: vamos coordenar com a ONU para ver se vocês cumprem com a oferta. Tudo o que enviarem, a Venezuela vai pagar, porque não somos mendigos de ninguém. Que cheguem aos nossos portos, de maneira legal. Aceitamos”, frisou.
Maduro referiu-se ainda ao Brasil e anunciou estar na disposição de comprar os produtos vendidos no Estado brasileiro de Roraima.
"Ao Brasil, por exemplo, nós estamos na disposição de comprar todo o arroz, açúcar, leite em pó, toda a carne que nos vendam a partir do Estado de Roraima, desde Boavista” (capital do estado), disse.
Nicolás Maduro frisou ainda querer comprar "aos empresários, aos produtores, ao governador de Roraima, pagando em cash (dinheiro)".
"Não somos maus pagadores nem ‘maulas' (pessoas pouco cumpridoras das suas obrigações) nem mendigos, somos gente honorável, de trabalho", disse.
Segundo Nicolás Maduro, o que os brasileiros quiserem enviar para a Venezuela, Caracas comprará.
"Querem trazer camiões com leite em pó? Eu compro já, e pago-lhes já. Querem trazer arroz? Eu compro já. Querem trazer carne, que venha, para os mercados populares, para as Clap (caixas com alimentos a preços subsidiados)", disse.
A entrada de ajuda humanitária, especialmente os bens fornecidos pelos Estados Unidos, no território venezuelano tem sido um dos temas centrais do braço-de-ferro entre Nicolás Maduro e Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional que há um mês se auto-proclamou Presidente interino da Venezuela.
As doações oriundas dos Estados Unidos e de outros países encontram-se armazenadas em vários Estados vizinhos da Venezuela, como a Colômbia, Brasil e na ilha de Curaçao, nas Antilhas holandesas.
O governo venezuelano tem insistido em negar a existência de uma crise humanitária no país.
Hoje é a data limite anunciada por Juan Guaidó para a entrada no país de 14 camiões e 200 toneladas de ajuda humanitária reunida para a Venezuela, tendo-se já registado zonas de fronteira com o Brasil e a Colômbia confrontos entre populares apoiantes de Guaidó e polícias, para ali deslocados por ordem de Nicolas Maduro para impedir a passagem.
Camiões com ajuda humanitária destinada à Venezuela incendiados na fronteira com Colombia
Dois camiões com ajuda humanitária destinada à Venezuela foram incendiados hoje no lado venezuelano de uma ponte na fronteira com a Colômbia, denunciou a deputada Gaby Arellano, que acusou a polícia nacional bolivariana de atear as chamas.
"Eles incendiaram dois dos quatro camiões que se encontravam em território venezuelano", disse aos jornalistas a deputada da oposição que se encontra junto à ponte Francisco de Paula Santander, onde já se registaram algumas confrontações entre populares e agentes da policia venezuelana.
“As pessoas estão a tentar proteger os carregamentos de ajuda humanitária que (o Presidente da Venezuela) Maduro, o ditador, mandou incendiar”, acusou.
Hoje é a data limite anunciada pelo autoproclamado Presidente interino venezuelano, Juan Guaidó, para a entrada no país de 14 camiões e 200 toneladas de ajuda humanitária reunida para a Venezuela.
A entrada de ajuda humanitária, especialmente os bens fornecidos pelos Estados Unidos, no território venezuelano tem sido um dos temas centrais do braço-de-ferro entre Juan Guaidó e Nicolás Maduro.
As doações oriundas dos Estados Unidos e de outros países encontram-se armazenadas em vários Estados vizinhos da Venezuela, como a Colômbia, Brasil e na ilha de Curaçao, nas Antilhas holandesas.
O governo venezuelano tem insistido em negar a existência de uma crise humanitária no país, afirmação que contradiz os mais recentes dados das Nações Unidas, que estimam que o número atual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4 milhões.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando Juan Guaidó se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos do Presidente Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.
A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou já dezenas de mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.
Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.