27 fev, 2019 - 16:28 • Tiago Palma
Era um testemunho há muito aguardado. O ex-advogado de Donald Trump, Michael Cohen, que já no início de maio começa a cumprir uma pena de três anos de prisão – ele, Cohen, que se declarou culpado de vários crimes, entre os quais de violar leis de financiamento de campanhas políticas –, foi, durante a tarde desta quarta-feira, inquirido no Congresso, em Washington. E como era já previsível, depois de o site norte-americano Politico ter previamente revelado o testemunho escrito do advogado, o Presidente dos EUA foi acusado de vários “ilícitos”, entregando Cohen ao Comité Especial de Investigação da Câmara dos Representantes documentação que comprova essas ilicitudes.
Voltando aos crimes de que Michael Cohen se declarou culpado, entre eles está o de mentir ao Congresso em inquirições passadas.
Agora, Cohen, que se diz "arrependido", garante que o fez devido à coação de que foi vítima por Trump – mesmo que este nunca lhe tenha pedido “diretamente para mentir”. Entre as mentiras, está o facto de o ex-advogado do Presidente ter negado os negócios em Moscovo da Trump Organization, nomeadamente o projeto de construção de uma Trump Tower em Moscovo, algo que Trump negaria também durante a campanha, pese embora as reuniões, entre janeiro e junho de 2016, em que os dois, Trump e Cohen, discutiam “as coisas na Rússia”.
“Trump sabia e dirigia as negociações da Trump Tower em Moscovo durante a campanha eleitoral e mentiu sobre isso. Ele mentiu sobre isso porque nunca esperou ganhar as eleições. Também mentiu porque tinha centenas de milhões de dólares investidos nesse projeto”, garante Cohen.
Cohen, que diz ser “um parvo” por ter mentido, garante que Trump é “um aldrabão”.
Ainda sobre a Rússia, e a alegada ingerência russa nas eleições norte-americanas, Michael Cohen nunca confirma essa ingerência, mas lembra vários episódios onde denuncia a promiscuidade existente entre Trump e o Kremlin para que este derrotasse Hilary Clinton. E garante: "O desejo de vencer [de Trump] tê-lo-ia feito negociar com qualquer um."
Desde logo, Cohen garante que Roger Stone, antigo conselheiro da campanha de Trump e amigo de longa data do Presidente dos EUA, “falou com Julian Assange por telefone sobre a revelação de e-mails dos democratas [muitos envolvendo Hilary] através da WikiLeaks”, acrescentando, o advogado, que o próprio Trump contactou Assange a título pessoal, pois essa divulgação seria “ótima”, dizia então, para a sua campanha.
Em comunicado, a WikiLeaks reagiu entretanto, garantindo que Julian Assange "nunca manteve qualquer telefonema" com Roger Stone.
Ainda sobre o alegado conluio com a Rússia, Michael Cohen acusa Donald Trump Jr., filho do Presidente norte-americano, de ter informado o pai (na presença de Cohen) das reuniões que manteve com pessoas ligadas ao Kremlin, algo que continua a ser investigado pelo procurador-especial Robert Mueller e foi já, anteriormente, escrutinado pelo Congresso. Certo é que tanto Trump como Trump Jr. negaram repetidas vezes essas reuniões e ligações russas.
Trump Jr. escreveu esta quarta-feira no Twitter a seguinte mensagem: "É engraçado como a coisas mudam quando estás a tentar salvar a pele." O filho do Presidente dos EUA lembrava que Michael Cohen apenas mudou o seu discurso em relação a Donald Trump depois de ter sido acusado de evasão fiscal e outros delitos financeiros.
Stormy Daniels? "Ter mentido a Melania é dos maiores arrependimentos que sinto"
Por fim, entre os muitos destaques das acusações de Cohen, volta à tona a suposta relação extraconjugal de Trump com a atriz pornográfica Stormy Daniels, garatindo o advogado ter documentos que comprovam a transferência de 130 mil dólares que fez a Stormy para a silenciar quanto ao alegado caso ocorrido em 2016. A atriz já veio esta quarta-feira agradecer publicamente a Cohen no Twitter.
Segundo Cohen, e já depois de eleito Presidente, Trump passou-lhe um cheque, vindo da sua conta pessoal, devolvendo-lhe esse valor, que foi pago inicialmente por Cohen ao advogado da atriz pornográfica. “Trump é um vigarista. Pediu-me para pagar a uma estrela pornográfica com quem ele tinha tido um caso e para mentir à sua mulher [Melania Trump] sobre isso, algo que eu fiz. Ter mentido à primeira-dama é dos maiores arrependimentos que sinto. Respeito-a muito e ela não merecia isso”, acrescentou.
“Tenho vergonha de ter escolhido fazer parte deste encobrimento das atividades ilícitas do senhor Trump, em vez de dar prioridade àquilo que a minha consciência me dizia para fazer”, garante ainda Cohen.
Através de Sarah Sanders, responsável de imprensa, a Casa Branca já veio publicamente, na última semana, desacreditar Cohen, que diz ser “patético”, lembrando que anteriormente este já mentiu ao Congresso e que esta inquirição apenas servirá para “espalhar mais as suas mentiras”.
Quanto ao Presidente (que por estes dias está no Vietname, para uma cimeira com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un), este declarou, através do Twitter, que Michael Cohen foi somente um dos muitos advogados que “infelizmente” o representaram. "Acabou por ser expulso pelo Supremo Tribunal do Estado por mentir e ser fraudulento. Fez coisas más que não estavam relacionadas comigo. Está a mentir para reduzir seu tempo de prisão", escreveu Trump.