04 mar, 2019 - 15:06 • Tiago Palma
Um mega esquema de lavagem de dinheiro montado pelo Kremlin pode ter servido para financiar a família real britânica, revela esta segunda-feira o jornal "The Guardian", num artigo sobre Ruben Vardanyan.
O milionário arménio, homem da confiança do Presidente russo, Vladimir Putin, apresenta-se como um empreendedor e filantropo – que investe parte significativa da sua riqueza em caridade.
Próximo de celebridades, da música ao cinema, próximo de banqueiros, de Presidentes, Governos e, até, da realeza, nomeadamente a britânica, são conhecidos por todos estes os faustosos jantares e festas que Vardanyan organiza. Muitas vezes, na volta, é o milionário o convidado.
Assim, o oligarca arménio criou uma forte e extensa rede de contactos, contactos esses que permitiram, também, que ajudasse outros oligarcas, sobretudos russos e com ligações ao Kremlin, a fazer circular dinheiro no espaço europeu e nos EUA. Calcula-se que o banco de invesitmento que Vardanyan liderou até 2012, o Troika Dialog, tenha organizado um esquema que fez “expatriar” da Rússia, ilegalmente, quase 4,6 mil milhões de dólares.
Vardanyan venderia o Troika Dialog em 2012 ao gigante Sberbank, controlado pelo Kremlin, e é hoje o líder do arménio Ameriabank, detido em parte pelo Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (EBRD, na sigla em inglês).
Depois de uma mega fuga de transações bancárias obtida pelo Organized Crime and Corruption Reporting Project, e a que o "Guardian" teve acesso, talvez a maior de sempre envolvendo o regime de Vladimir Putin, conclui-se que o dinheiro que circula na rede operada via Troika Dialog pode estar ligado a algumas das fraudes mais notórias cometidas durante a presidência de Vladimir Putin.
A rede seria operada por cidadãos russos que estão à frente de 70 empresas offshore que detêm contas na Lituânia. As autoridades lituanas já estão a investigar o caso.
No esquema, o Troika Dialog dificultaria a identificação do dinheiro ilícito, misturando-o com outro, lícito. Esse dinheiro chegaria, depois, à Europa e aos Estados Unidos através de empresas fictícias, sediadas em diversos paraísos fiscais.
No entanto, explica o "The Guardian", o dinheiro não terá servido apenas para financiar a compra de jatos particulares, iates ou propriedade de luxo a gente com ligações ao Kremlin em outros países.
Entre 2009 e 2010, o Troika Dialog ofereceu um donativo (através de uma offshore sediada das Ilhas Virgens Britânicas, a Quantus Division) de mais de 200 milhões de dólares à Prince's Charities Foundation, detida pelo Príncipe de Gales, dinheiro esse que foi utilizado para impedir a venda, em hasta pública, da Dumfries House, uma mansão da família real em Ayrshire.
Como gesto de agradecimento a Ruben Vardanyan, o Príncipe Carlos organizou um jantar em sua honra em 2014.