05 mar, 2019 - 15:34
Um homem seropositivo no Reino Unido tornou-se o segundo adulto em todo o mundo a ser curado depois de receber um transplante de medula óssea de um doador resistente ao vírus HIV.
Quase três anos depois de ter recebido células da medula óssea de um doador com uma mutação genética rara que resiste à infeção pelo HIV - e mais de 18 meses depois de ter deixado os medicamentos antirretrovirais, há testes altamente precisos que não mostram vestígios da anterior infeção pelo HIV.
"Não há vírus que possamos medir. Não detetamos nada", disse Ravindra Gupta, professor e biólogo especialista em HIV que liderou uma equipa de médicos que trataram este britânico.
Especialistas no estudo da Sida disseram que o caso é uma prova de que os cientistas um dia poderão tratar a doença e marca um "momento crítico" na busca por uma cura, mas não significa que esta já tenha sido encontrada.
Gupta descreveu o doente como "funcionalmente curado" e "em remissão", mas advertiu: "É muito cedo para dizer que ele está curado".
Primeiro caso
O primeiro caso conhecido de cura funcional do HIV - foi um homem americano, Timothy Brown, que ficou conhecido como o paciente de Berlim e que passou por tratamento semelhante, em 2007, na Alemanha.
Cerca de 37 milhões de pessoas em todo o mundo estão atualmente infetadas com o HIV e a pandemia de SIDA já matou cerca de 35 milhões de pessoas desde que começou na década de 1980.
Pesquisas científicas sobre o complexo vírus levaram, nos últimos anos, ao desenvolvimento de combinações de medicamentos que podem mantê-lo na maior parte dos pacientes.
Gupta, agora na Universidade de Cambridge, tratou o paciente de Londres quando trabalhava na University College London. O homem contraiu o HIV em 2003, disse Gupta, e em 2012 também foi diagnosticado com um tipo de cancro no sangue conhecido como Linfoma de Hodgkin.
Em 2016, quando ele estava muito doente, os médicos decidiram procurar um transplante. "Esta foi realmente sua última oportunidade de sobreviver", disse Gupta à Reuters.
O doador - que não tinha parentesco com o britânico - tinha uma mutação genética conhecida como 'CCR5 delta 32', que confere resistência ao HIV.
O caso
O transplante foi relativamente suave, disse Gupta, mas houve alguns efeitos colaterais. Houve células do sistema imunológico do doador a atacar as células do sistema imunológico do receptor.
A maioria dos especialistas afirma que é inconcebível que estes tratamentos possam ser uma forma de curar todos os pacientes. O procedimento é caro, complexo e arriscado. Para o alargar, os doadores teriam que ser encontrados numa pequena amostra de descendentes do norte da Europa - que têm a mutação CCR5 e que as torna resistentes ao vírus.
"Embora essa não seja uma estratégia viável numa grande escala para obter a cura, ela representa um momento importante na investigação", disse Anton Pozniak, presidente da Sociedade Internacional da Sida. "A esperança é que isto acabe por levar a uma estratégia segura, económica e fácil, usando uma tecnologia genética ou uma técnica de anticorpos."