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Victor García

"A vida na Venezuela não tem valor"

06 mar, 2019 - 07:40 • Sílvio Vieira

O futebolista venezuelano a jogar em Portugal há seis anos diz que o país está sequestrado por Nicolás Maduro. À falta de alimentos e medicamentos, junta a de outros bens de primeira necessidade, como papel higiénico, de forma a conferir mais nitidez a um retrato de dificuldade extrema.

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“A vida na Venezuela não tem valor” é a forma que Victor García, futebolista venezuelano a jogar em Portugal há seis anos, encontra para resumir a gravidade da situação que se vive no país. Em entrevista à Renascença, o jogador fala de uma ditadura que se impõe pela lei do medo e pelo total desrespeito pela vida humana.

"A vida na Venezuela não tem valor. É como matar uma mosca, ou um mosquito, e as pessoas vivem com medo. A Venezuela está sequestrada por aquele presidente [Nicolás Maduro]. Rompe relações com todos os países e a Venezuela, a cada dia que passa, está a ficar mais sozinha. Eles têm medo, porque sabem que quando entregarem o poder vão ser presos e Maduro não entregar o poder", prevê o antigo jogador do FC Porto, agora no Famalicão.

A solução, na opinião de Victor García, apoiante de Juan Guaidó, passaria por uma tomada de posição dos militares. O futebolista não defende que se coloquem ao lado do autoproclamado presidente interino, mas que fiquem "do lado do povo". "O Maduro sente-se protegido pelos militares da Venezuela, apesar de alguns já estarem do lado do povo e do lado do Guaidó. Muitos dos que estão com Maduro têm medo. Eles têm família e recebem ameaças de morte", relata.

"Falta tudo. As pessoas não acreditam quando digo que não há, sequer, papel higiénico"

À falta de alimentos e medicamentos, Victor García junta a de outros bens de primeira necessidade, como papel higiénico, de forma a conferir mais nitidez a um retrato de extrema dificuldade.

"Lá falta tudo: alimentos, medicamentos. Eu digo às pessoas que falta papel higiénico e as pessoas não acreditam. Houve um jornal que deixou de sair, porque não havia folhas. Falta farinha, massa, falta muita coisa. É uma situação muito complicada, porque as pessoas estão a morrer de fome e por falta de medicamentos", lamenta.

Apesar de conseguir fazer chegar ajuda económica aos seus familiares na Venezuela, o futebolista explica que o problema é depois não terem como adquirir os bens, porque, simplesmente, não há nada para comprar.

Intervenção militar dos Estados Unidos é um mal necessário

Victor García considera que uma intervenção militar dos Estados Unidos "pode ser complicado", mas teme que seja "a única forma de tirar o poder a Maduro".

"Haverá sempre militares do lado dele [Maduro]. Por isso, penso que terá de haver uma intervenção externa, porque já se fez de tudo. Houve muitas manifestações de gente que tem muito valor. Essas pessoas manifestam-se e não sabem se um minuto depois estarão ali. É por isso que digo que a vida não tem valor na Venezuela", reforça.

Internacional pelo seu país, o lateral-direito, de 24 anos, não tem entrado nos planos da seleção, até porque esteve sem jogar na primeira metade da época, no Vitória de Guimarães. "O futebol não vai parar na Venezuela, mas esta situação afeta todos. Se houver uma intervenção militar e uma guerra civil isso irá, obviamente, afetar os jogadores", diz.

Victor García chegou a Portugal em 2013 para jogar no FC Porto. Foi utilizado nos juniores, na equipa B, pela qual foi campeão da II Liga, e fez sete jogos pela equipa principal. Há duas épocas foi cedido ao Nacional da Madeira e na temporada passada assinou pelo Vitória de Guimarães, onde fez 21 jogos. Esta época, sem minutos no Vitória, optou pelo Famalicão, no mercado de janeiro, por cedência dos vimaranenses.

Com oito internacionalizações pela Venezuela, Victor García espera voltar a ser utilizado com regularidade para despertar interesse do selecionador. A equipa venezuelana joga em Madrid, a 23 de março, um amigável com a Argentina.

A crise política na Venezuela, onde vivem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes, agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder do parlamento venezuelano, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

A esta situação soma-se uma grave crise económica e social que levou mais de 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas.

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