20 mar, 2019 - 11:56 • Redação, com agências
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Com ventos a rondar os 170 quilómetros por hora, o ciclone “Idai” atingiu em cheio o coração de Moçambique na noite da passada quinta-feira, 14 de março. As notícias foram chegando ao resto do mundo a conta gotas, enquanto a população resistia como podia nas zonas afetadas. A verdadeira dimensão da tragédia só agora começa a ser conhecida e a recuperação pode demorar anos.
Mais de 200 mortos confirmados
Cinco dias depois da tempestade brutal, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou esta terça-feira que “há mais de 200 mortos” e mil feridos confirmados, mas os números deverão disparar nos próximos dias à medida que prosseguem as operações de busca e salvamento. O chefe de Estado admite que o número final pode ultrapassar o milhar.
Filipe Nyusi adiantou que 350 mil pessoas "estão em situação de risco" e decretou o estado de emergência nacional. Esta quarta-feira é o primeiro de três dias de luto nacional em Moçambique. Segundo as estimativas do Governo, cerca de 600 mil pessoas foram afetadas pelas cheias depois do ciclone Idai nas províncias de Sofala, Manica, Zambézia, Inhambane e Tete.
No último balanço do governo moçambicano feito esta quinta-feira, o ministro da Terra e Ambiente disse que três mil pessoas já foram resgatadas com vida, mas outras 15 mil ainda aguardam o resgate.
Cidade da Beira devastada
A província de Sofala foi a mais atingida por um dos maiores desastres climáticos registados no hemisfério sul. A cidade da Beira, capital de Sofala, sofreu estragos em 90% dos seus edifícios e infraestruturas. Com cerca de meio milhão de habitantes, a Beira é a segunda maior cidade de Moçambique. Os acessos por terra estão muito complicados porque a Estrada Nacional 6 (EN6), a principal da região centro do país, ficou cortada devido à subida das águas do rio Haluma. A situação é dramática, contou à Renascença Romeu Rodrigues, um português que se encontra na região afetada.
Dezenas de portugueses perderam tudo
Esta quarta-feira, 20 de março, o Governo revelou que 30 portugueses estão desaparecidos na zona da Beira. Prosseguem os esforços para localizar estas pessoas. Até ao momento, não há registo de cidadãos portugueses entre as vítimas mortais, feridos ou em situação de perigo, mas várias dezenas perderam tudo: casas e bens, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Na região da Beira devem residir cerca de 2.500 portugueses, de acordo com o gabinete do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.
Portugal anunciou o envio de uma avião C130, com uma força militar de reação rápida para ajudar as vítimas da tragédia. Nesta primeira equipa vão fuzileiros com botes para as operações de busca, uma equipa cinotécnica da GNR, médicos do Exército e um engenheiro de telecomunicações.
Quatrocentos mil desalojados
O desafio humanitário é enorme. Pelo menos 400 mil pessoas ficaram desalojadas no centro de Moçambique, segundo a Cruz Vermelha Internacional, que considera o ciclone “Idai” a "pior crise humanitária em Moçambique", um dos países mais pobres do mundo. O Programa Mundial da Alimentação (PMA), agência que coordena a resposta humanitária da ONU em Moçambique, pediu, para já, 35 milhões de euros para ajuda imediata às vítimas.
Milhares de pessoas à espera de salvação
Com a subida da água dos rios da região, as equipas de resgate lutam contra o tempo para tentar salvar pessoas que fugiram para os telhados de casas e se abrigaram em árvores. Uma das situações mais dramáticas vive-se na aldeia de Búzi, na província de Sofala, que pode estar a 24 horas de ficar completamente submersa. Nesta aldeia vivem, de acordo com a organização Save The Children, pelo menos 2.500 crianças e a população aguarda por resgate no topo dos telhados dos edifícios.
Alerta para risco de cheias. O pior ainda não passou
As Nações Unidas alertaram esta terça-feira que as próximas 72 horas serão "críticas" para Moçambique, com cheias esperadas nas bacias dos rios Búzi, Pungoe e Save. A ONU aponta também o elevado risco de inundações em zonas urbanas da Beira e do Dondo, no centro de Moçambique
A chuva continua a cair na região. Algumas barragens estão a atingir a quota máxima e poderão ter que abrir as comportas, agravando ainda mais a situação das populações a jusante. Antes da devastação causada pelo ciclone “Idai”, Moçambique já estava a sofrer com as cheias provocadas pelas chuvas das monções. Na sequência das cheias, o perigo de doenças também é uma realidade.
Depois das cheias, o risco das doenças
Os Médicos Sem Fronteiras alertam para o risco de proliferação de doenças após as cheias, fruto da falta de acesso a água potável.
“As pessoas não têm acesso a água potável e isso pode aumentar o número de diarreias, que tem logo influência na saúde dos afetados. Depois disso, chegam outro tipo de infeções, como infeções respiratórias”, explica o médico João Antunes, representante dos Médicos Sem Fronteiras em Portugal, em entrevista à Renascença.
Prejuízos incalculáveis
Os estragos provocados pelo ciclone "Idai" em Moçambique ainda não foram contabilizados, mas a fatura vai ser pesada e a recuperação poderá demorar vários anos. Casas de habitação e edifícios públicos como escolas e hospitais danificados, estradas arrasadas, colheitas e negócios destruídos, rede de abastecimento de água, energia e telecomunicações comprometida... nada ficou como dantes após a passagem do temporal.
Tragédia (também) no Zimbabué e Malawi
No Zimbabué, as autoridades contabilizaram até esta terça-feira pelo menos 100 mortos, bem como cerca de 1.600 casas e oito mil pessoas afetadas no distrito de Chimanimani, em Manicaland.
No Malawi, as únicas estimativas conhecidas apontam para pelo menos 56 mortos e 577 feridos, com mais de 920 mil pessoas afetadas nos 14 distritos atingidos pelo ciclone, incluindo 460 mil crianças.
[notícia atualizada às 07h30, de 21 de março]