21 mar, 2019 - 17:16 • Pedro Mesquita
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Joaquim Chissano admite que poderá não ser exagerada a estimativa de mais de mil mortos feita esta semana pelo presidente Filipe Nyusi, porque a área inundada é muito grande.
Em entrevista à Renascença, o antigo chefe de Estado daquele país espera, contudo, que os esforços de prevenção tenham conseguido evitar uma tragédia com essa dimensão.
Chissano acredita que o país se vai reerguer, como fez no passado - e agradece a ajuda internacional - mas sublinha que o atual momento é muito difícil de suportar.
Como está a seguir toda esta tragédia?
É um ambiente muito difícil de suportar.
O presidente Nyusi admitiu esta semana que poderá haver mais de mil mortos. É também o seu receio?
Não sei. A área é muito grande e enquanto houver pessoas desaparecidas é difícil de determinar. Fala-se agora de mais de duzentos mortos mas a área é muito grande. Não é só Beira, Sofala e Manica. É preciso esperar até que a situação acalme e começarem a reaparecer as pessoas. Ainda são muito difíceis as comunicações...
Mas teme que possa ultrapassar as mil vítimas? É que as imagens que se vêm do antes e depois, de toda essa região, são verdadeiramente assustadoras.
Havia muito trabalho de prevenção, e a prevenção pode ter reduzido o número de óbitos. Mas se chegar a mil, não será um número exagerado para as áreas que foram inundadas. Penso que é preciso esperar.
Há uma localidade chamada Buzi, onde milhares de pessoas estavam isoladas, incluindo perto de duas mil e quinhentas crianças, segundo a organização "Save de Children". Tem alguma informação sobre Busi?
É uma zona baixa. Era uma plantação de cana de açúcar, uma zona baixa e, por isso, muito difícil de proteger contra inundações, sobretudo quando o rio Busi recebe muita água. Tem vindo a ser tomadas precauções. É possível que, apesar de tudo, se tenha protegido muita gente...mas não sei. Não visitei.
Tem receio de que as barragens, que estão todas muito cheias, tenham que fazer descargas e que isso possa provocar mais vítimas? Eu estou a falar das barragens moçambicanas mas, também, do Zimbabué...
Se tudo for feito de forma regrada pode ser que as descargas não provoquem vitimas. Ainda é possível evitar danos humanos.
Tem havido uma grande movimentação internacional de solidariedade para com Moçambique, nomeadamente aqui, em Portugal. Parece-lhe que o mundo está a fazer aquilo de que Moçambique necessita, neste momento?
Eu olho para esse apoio com apreço. Eu vi o próprio Presidente da República a mobilizar esse apoio. Cada um dá o que pode, tudo o que se dá é apreciável.
Para concluir: Como olha para toda esta desgraça? O senhor, que foi Presidente durante tantos anos, como vê tudo isto?
É com tristeza... mas também com a esperança de que tudo isto se vai repor. Não é a primeira vez que que vivemos calamidades, em Moçambique, já estamos habituados a sofrer e a repor. Acredito que nos vamos erguer, sobretudo com esta solidariedade internacional.