29 mar, 2019 - 14:43 • Tiago Palma , Joana Azevedo Viana
A primeira-ministra britânica alertou, antes mesmo da votação desta sexta-feira no Parlamento, que hoje podia muito bem ser a “derradeira oportunidade” para garantir o sucesso do Brexit, referindo-se, claro, a uma saída ordenada do Reino Unido da UE.
Mas uma saída “a bem” parece cada vez mais um cenário impossível.
Apesar dos muitos esforços de Theresa May nos últimos dias, procurando recolher apoios suficientes no Parlamento (sobretudo entre conservadores) para garantir a aprovação do acordo que negociou em Bruxelas – chegou mesmo a prometer demitir-se se o acordo chegasse a bom porto –, o plano de May acabou chumbado ao início desta tarde pela terceira vez, depois de um primeiro chumbo histórico em janeiro e de uma segunda derrota em março.
Desta vez, o acordo não passou por uma diferença de 58 votos: 344 deputados votaram contra a proposta e 286 a favor.
Theresa May tem agora até 12 de abril para apresentar um novo plano de ação a Bruxelas, caso contrário o Reino Unido vai mesmo abandonar a União Europeia nesse dia sem qualquer acordo.
Face ao novo chumbo, Donald Tusk, que preside ao Conselho Europeu, já convocou uma reunião com todos os Estados-membros da UE para 10 de abril, dois dias antes da nova - e derradeira - data de saída.
Chumbado o acordo uma terceira vez, May reagiu de pronto, declarando que “devia ser motivo de grande tristeza para todos os membros desta casa que, mais uma vez, tenhamos falhado no apoio de uma saída ordeira”.
Segundo a primeira-ministra, “as implicações da decisão da Câmara dos Comuns são graves”, dado que faltam 14 dias para o Reino Unido sair da UE a bem ou a mal, tempo que a governante diz ser manifestamente curto para “concordar, legislar e ratificar um acordo” que garanta uma saída ordeira.
Entretanto, Stefaan De Rynck, membro da Equipa de Negociação para o Brexit e principal conselheiro de Michel Barnier, negociador-chefe da União Europeia, veio esta sexta-feira dizer que uma saída sem acordo é "um cenário realmente provável" tendo em conta a impossibilidade de o Parlamento britânico aprovar o que May negociou com Bruxelas.
Próxima data a fixar: segunda-feira, 1 de abril
Ainda assim, e derrotada uma vez mais, May não se dá como derrotada. E promete: “A Câmara dos Comuns não nos permite sair sem um acordo, portanto vai ter de arranjar uma alternativa.”
Para Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, o maior da oposição, a alternativa passa por “mudar o acordo”, algo que ficou “claro” com este terceiro chumbo.
E caso May não aceite, “tem de sair” o quanto antes, “para podermos decidir o futuro deste país em eleições gerais” antecipadas. “Na próxima segunda-feira, esta câmara e todos os membros terão a oportunidade e a responsabilidade de encontrar uma maioria para um acordo melhor para todas as pessoas deste país”, concluiu.
Cabe pois, agora, aos deputados discutir o que eles próprios chumbaram na sessão de votos indicativos que aconteceu na quarta-feira. Ou seja, opções para o Brexit. Esse debate está marcado para a próxima segunda-feira.
Apesar da falta de consenso na votação de há dois dias, a proposta que recolheu uma menor diferença de votos foi a possibilidade de o acordo de Brexit prever uma união aduaneira (Michel Barnier garantiu esta sexta-feira que a UE não se oporá a negociar esta questão) entre Londres e Bruxelas.
Caso esta proposta, ou outra, recolha o apoio de uma maioria parlamentar, terá, posteriormente, que ser aprovada pelo Governo e depois pela UE a 27.