01 abr, 2019 - 17:36 • Redação com Lusa
O número de casos de cólera quase duplicou em Moçambique nas últimas 24 horas, sendo que no domingo as autoridades de saúde da Beira, uma das províncias mais castigadas pelo ciclone Idai, confirmaram a primeira morte resultado da doença.
"Registámos uma morte por cólera", avançou Ussene Isse, diretor-geral de Saúde de Moçambique, à televisão estatal TVM. "A pessoa chegou em estado crítico e foi a primeira a morrer de cólera dentro das nossas unidades de saúde" desde meados de março.
Ainda de acordo com Isse, no domingo foram registados 517 casos de infeção por cólera, contra os 271 que tinham sido confirmados no sábado.
A cólera é endémica em Moçambique, onde foram registados vários surtos da doença nos últimos cinco anos. Cerca de 2.000 pessoas foram infetadas no último surto, registado em fevereiro de 2018, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde.
Agora, e dado rasto de destruição deixado pelo ciclone Idai, teme-se que haja um novo surto de cólera no país, onde a falta de água potável e o colapso de infraestruturas aumentam o risco de contração de doenças transmissíveis e potencialmente fatais.
A escala da destruição das infraestruturas sanitárias na Beira, a par da densidade populacional naquela província, têm aumentado os receios de uma nova epidemia de cólera difícil de controlar.
Esta segunda-feira, as autoridades moçambicanas atualizaram o balanço de mortos no país desde a passagem do ciclone Idai: mais de 700 pessoas morreram na sequência da catástrofe nos três países afetados pelo Idai, 518 delas em Moçambique.
Face ao aumento de casos de cólera, a OMS já disponibilizou toda a ajuda a Moçambique para lidar com esta e outras doenças infecciosas.
"Estamos a posicionar-nos para ajudar o Governo [moçambicano] e os parceiros para isso", referiu esta segunda-feira a diretora da OMS para África, Matshidiso Moet, após visitar o Centro de Controlo de Cólera instalado no complexo sanitário do bairro de Mucurungo, na Beira.
"Temos de nos lembrar que, muitas vezes, os impactos em termos de doenças se devem mais ao colapso do sistema de saúde do que ao impacto direto da própria catástrofe", sublinha a responsável, lembrando que os casos de cólera "têm aumentado todos os dias", o que torna ainda mais necessário criar novos centros de tratamento que avaliem as pessoas aos primeiros sintomas, para prevenir que a doença alastre.
"Daqui a alguns dias vamos começar a fazer a campanha de vacinação oral para melhorar a imunidade da população e conter a transmissão. Além disso, esperamos outro tipo de surtos, como de sarampo, e o aumento de casos de malária."