03 abr, 2019 - 09:29
“Não há dúvida, não é? Partido Nacional Socialista da Alemanha", respondeu Jair Bolsonaro com o nome do partido de Adolf Hitler, a um jornalista que o questionou se concordava com a opinião do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, de que o nazismo era de esquerda.
O Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Jerusalém, cujas instalações foram hoje visitadas pelo chefe de Estado brasileiro, refere, na sua página na internet, que "grupos radicais de direita na Alemanha geraram entidades como o Partido Nazista", contrariando, assim, a posição tomada por Jair Bolsonaro.
O ministro das Relações Exteriores brasileiro afirmou em 17 de março, numa entrevista ao canal no YouTube 'Brasil Paralelo', que o "fascismo e o nazismo são fenómenos de esquerda".
"Uma coisa que eu falo muito é dessa tendência da esquerda de pegar numa coisa boa, sequestrar, perverter e transformar numa coisa má. É mais ou menos o que aconteceu com esses regimes totalitários. Isso tem a ver com o que eu digo, que fascismo e nazismo são fenómenos de esquerda", afirmou Ernesto Araújo.
A entrevista causou polémica, tendo sido criticada por historiadores.
"Quando um ministro do Exterior faz esse tipo de afirmação, considero altamente problemático diplomaticamente e um absurdo cientificamente", afirmou a historiadora Stefanie Schüler-Springorum, diretora do Centro para Pesquisa sobre Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim, citada pelo jornal Folha de São Paulo.
Ainda segundo a mesma fonte, o historiador Wulf Kansteiner, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, frisou que os nazis não seguiram políticas de esquerda.
"Pelo contrário, propagavam valores da extrema-direita, um extremo nacionalismo, um extremo antissemitismo e um extremo racismo. Nenhum especialista sério considera hoje o nazismo de alguma forma um fenómeno de esquerda. Por isso, da perspetiva académica histórica, essa declaração é uma asneira", declarou, citado pelo jornal brasileiro.
O chefe de Estado brasileiro, que está em visita oficial a Israel desde domingo, liderou uma cerimónia em que acendeu uma tocha e colocou flores na Cripta da Memória criada para prestar homenagem aos seis milhões de judeus que morreram na II Guerra Mundial.
"Aquele que se esquece de seu passado está condenado a não ter um futuro", escreveu Bolsonaro no livro de visitas do museu, recordando o extermínio levado a cabo pelo regime nazi.
Esta quarta-feira, o chefe de Estado brasileiro irá encontrar-se com brasileiros residentes em Israel encerrando esta visita de quatro dias.