11 abr, 2019 - 16:24 • Filipe d'Avillez
Omar Bashir foi deposto, esta quinta-feira, da presidência do Sudão, depois de trinta anos no poder.
O ditador, que sobreviveu durante décadas a tentativas de golpe, crises económicas e uma guerra-civil que dividiu o seu país em dois estados independentes, sucumbiu finalmente à pressão das manifestações populares em que dezenas de pessoas morreram.
As Forças Armadas, sentindo que o povo estava saturado do regime, interveio esta quinta-feira e o presidente, isolado, ficou sem alternativa que não a renúncia.
Mas o mesmo povo que se manifestou nas ruas e esta quinta-feira festejou a sua queda, está agora em estado de alerta e em modo de protesto novamente, depois de as Forças Armadas terem anunciado que vão tomar o poder e supervisionar um período de transição durante dois anos.
O anúncio foi feito pelo ministro da Defesa, Awad Mohamed Ahmed Ibn Auf, que acrescentou que no final dos período de transição haverá eleições democráticas e disse que Bashir está nas mãos dos militares e será guardado em local seguro.
Ibn Auf declarou ainda o Estado de emergência, um cessar-fogo nacional e a suspensão da constituição. O espaço aéreo ficará fechado durante 24 horas e as fronteiras encerradas até aviso em sentido contrário.
Em reação, a Associação dos Profissionais Sudaneses (SPA), que organizou a maioria dos protestos contra o ditador, desafiou os manifestantes a regressarem às ruas e para se continuarem a concentrar diante do Ministério da Defesa. Pouco depois, milhares de sudaneses ocupavam já as principais vias de Cartum entoando palavras de ordem contra os militares.
O amigo de Bin Laden
Bashir, que tem agora 75 anos, assumiu o poder em 1989 depois de um golpe militar. Na altura era um brigadeiro desconhecido da maior parte do mundo, mas durante as décadas seguintes tornar-se-ia uma das figuras mais desprezadas pelo mundo ocidental. O ditador, que sempre gostou de usar retórica islâmica, abriu as suas portas a vários grupos fundamentalistas e chegou a convidar Osama bin Laden para ir viver para o seu país.
O fator religioso não foi o único, mas contribuiu bastante para o azedar das relações com os estados do sul do Sudão, mas havia mais que os dividia. Os sudaneses do sul, de maioria negros subsarianos e divididos entre cristãos e animistas, queixavam-se de discriminação por parte dos árabes muçulmanos do norte. A guerra de décadas apenas terminou com a independência do Sudão do Sul em 2011, mas nem o facto de ter perdido metade do seu país abalou o poder de Bashir, que ainda conseguiu cometer atos de genocídio no Darfur.
O futuro de Bashir permanece incerto. Não se sabe se o novo regime o levará a julgamento, ou se preparará para ele uma reforma dourada. Há ainda a possibilidade de tentar legitimar-se, cedendo o ex-ditador à comunidade internacional, para ser julgado no Tribunal Penal Internacional pelos seus crimes no Darfur que terá conduzido a cerca de 300 mil mortos.