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Chuva e mau tempo em Moçambique assustam, um mês depois do ciclone

14 abr, 2019 - 09:51 • Lusa

Foi há um mês que surgiram as primeiras notícias do desastre natural em Moçambique, que fez mais de 600 mortos confirmados.

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Anastácia José, 38 anos, mãe de sete filhos, tem pavor da chuva que começa a cair e das nuvens carregadas que cobrem seu bairro, exatamente um mês depois do ciclone Idai ter desalojado sua família num subúrbio de Chimoio, Manica, centro de Moçambique.

"A chuva do ciclone veio também assim", lembra Anastácia José, apontando para o este, o sentido da entrada do ciclone para o continente, que deixou devastadas as províncias do centro de Moçambique, com os piores danos na cidade da Beira.

Viveu durante 21 dias, primeiro em salas de aulas e depois em tendas, num centro de abrigo no bairro Trangapasso, nos arredores de Chimoio, até o lugar ser desativado pelo governo, quando regressou a casa, reconstruída com novos blocos de argila, o mesmo material que se dissolveu com as águas das chuvas, desabando sua única habitação.

O "meu receio é que a chuva estrague os blocos antes de eu levantar as paredes desabadas" revela à Lusa Anastácia José, sobre o medo do mau tempo que se forma, o primeiro a atingir Chimoio desde a passagem do ciclone Idai a 14 de março.

Um outro sobrevivente do ciclone, Marcelino Fopenze, olha também para a chuva que cobre Chimoio, com a mesma incerteza sobre o que pode vir acontecer com as meias paredes da sua casa, agora em reconstrução.

"Enquanto estava no centro de acolhimento já batia blocos. Minha casa já esta formada, e mais algumas fiadas chego a cobertura" diz à Lusa Marcelino Fopenze

"Agora a coisa que menos preciso é chuva, porque enquanto eu não cobrir, será um trabalho em vão", explica.

Fopenze, a semelhança de vários desalojados do ciclone Idai em Chimoio regressaram aos bairros de origem, para reorganizar a vida e muitos estão a recorrer ao mesmo material precário – blocos de argila, estacas e plásticos – para construir em solos arenosos e de barro, os mais fustigados pelas chuvas.

"Viver no centro já não era viável. Era preciso se movimentar em 'biscates' para garantir a sobrevivência da família" disse à Lusa Paulo Mariano, outro sobrevivente, adiantando que "não existe outra opção, que construir tudo como antes, nos mesmos terrenos, porque faltam recursos para melhorar".

O governo desativou no início de abril vários centros de acomodação em Chimoio e Dombe (Sussundenga), devolvendo à proveniência 19 mil pessoas afetadas pelo ciclone Idai.

Vários centros de acolhimento ficavam desertos durante o dia, pois os seus "inquilinos" iam reconstruir as habitações durante o dia, e só regressavam as tendas para pernoitar, testemunhou a Lusa nos locais.

Uns deixaram os centros por iniciativa própria, por considerar os lugares de não cómodos para gestão familiar, mas outros, nem tanto, foram forçados a sair dos locais, para dar lugar a aulas.

"Era mais preferível voltar a vender bananas em molho e ter uns 10 meticais (13 centavos de euro) por dia, que ficar à espera duma refeição, por vezes incerta e noutras vezes, era simples papa de soja" desabafa à Meque Lourenço, um outro sobrevivente.

Agora quase todos lutam contra a especulação de preços, com o pão, arroz e sal a dispararem a cada dia que passa, devido à falta de produtos.

Pelo menos 10 estabelecimentos comerciais foram multados em Manica desde a passagem do ciclone Idai, por especulação de preços, que "tornam ainda mais caras as aldeias (atingidas pelo ciclone)", que têm Chimoio como principal mercado para se abastecer, explica à Lusa, Arnaldo Naico, porta-voz do governo de Manica e diretor provincial da Indústria e Comércio.

O ciclone Idai atingiu a região centro de Moçambique, o Maláui e o Zimbabué em 14 de março.

Em Moçambique, o ciclone provocou mais de 600 mortos, mais de 1600 feridos e afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, segundo o mais recente balanço.

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