20 abr, 2019 - 17:11 • Lusa
O primeiro-ministro do Egipto, Mustafa Madbouly, pede aos eleitores para participarem em massa no referendo de três dias destinado a aprovar emendas constitucionais, que, a serem aprovadas, vão permitir ao Presidente Abdel-Fattah Al-Sissi governar até 2030.
Mustafa Madbouly, que exerceu já o direito de voto no primeiro dos três dias do referendo, referiu que a votação refletirá "a atmosfera de estabilidade e democracia que Egito testemunha agora".
Os egípcios começaram hoje a votar as alterações, em assembleias de voto com a presença da polícia e do exército.
O referendo sucede a uma repressão sem precedentes contra dissidentes nos últimos anos, com o Governo de Al-Sissi a prender milhares de pessoas, a maioria islâmicos, mas também ativistas seculares importantes.
O Presidente retirou também as liberdades conquistadas na revolta pró-democracia, em 2011.
As emendas propostas, aprovadas pelo parlamento na passada terça-feira, por esmagadora maioria, foram criticadas pelos críticos como mais um passo para a instituição de um Governo autoritário.
As novas disposições, que terão que ser aprovadas no referendo, também preveem uma limitação da autonomia judicial e a institucionalização da ingerência das Forças Armadas, pilar do regime, na vida política.
Os partidos de oposição pediram aos eleitores que rejeitem as mudanças para prolongar até 2030 o Governo de Al-Sissi, que chegou ao poder em 2014 e foi reeleito para um segundo mandato de quatro anos no ano passado.
Durante semanas, as ruas do Cairo e de outras cidades do país viram florescer cartazes favoráveis à revisão da Constituição de 2014, que limita a dois o número de mandatos presidenciais.
A votação no referendo decorre até segunda-feira.
Al-Sissi, no poder após ter liderado um golpe de Estado militar em 03 de julho de 2013, quando assumia a pasta da Defesa e que derrubou o Presidente islamita Mohamed Morsi, foi reeleito chefe de Estado em 2018.
De acordo com o portal noticioso egípcio Mada Masr, as autoridades bloquearam na passada segunda-feira 34.000 páginas daquela rede para "silenciar" a campanha da oposição contra as emendas constitucionais.
A oposição à revisão constitucional esteve praticamente remetida às redes sociais. A larga maioria dos 'media', em particular a televisão, reproduz e enfatiza o discurso de Al-Sisi, diabolizando as vozes críticas, na sua maioria remetidas a um exílio forçado.
A Human Rights Watch (HRW) apelou ao Congresso norte-americano para não apoiar a "repressão no Egito", quando Al-Sissi se encontrava de visita a Washington para reunir-se com o seu aliado Donald Trump.
Segundo aquela organização não-governamental (ONG), o "projeto de reforma constitucional (....) institucionaliza o reforço do autoritarismo". "Caso sejam adotadas, estas emendas constitucionais agravariam a crise devastadora dos direitos humanos" do Egito, alertou a HRW.