23 mai, 2019 - 13:20 • Joana Azevedo Viana
A proibição de caçar elefantes foi levantada esta semana no Botswana por decisão do Governo, que alega que o elevado número destes animais de grande porte está a afetar o sustento de agricultores de pequena escala.
O país alberga um terço de todos os elefante do continente africano e as autoridades dizem que existe um crescente conflito no território entre humanos e estes animais selvagens.
"O Governo do Botswana decidiu suspender a proibição de caça", referiu o Ministério do Ambiente num comunicado divulgado esta quinta-feira. "O Ministério gostaria de reiterar que irá trabalhar com todos os envolvidos para garantir que a retomada da caça é feita de forma ordeira e ética."
Atualmente, e de acordo com cálculos de organizações pela conservação da natureza e vida selvagem, existem cerca de 130 mil elefantes no Botswana. As autoridades locais, pelo contrário, dizem que o número real é bastante superior e que isso está a causar problemas a alguns agricultores.
A proibição acabou na quarta-feira, com o Governo a organizar uma conferência de imprensa esta manhã para explicar a sua decisão aos jornalistas. Essa decisão surgiu depois de o Presidente do Botswana, Mokgweetsi Masisi, ter criado uma comissão de aconselhamento no ano passado, pouco depois da sua tomada de posse, para discutir se a proibição de caça de elefantes, implementada pelo seu antecessor, Ian Khama, em 2014, deveria ou não ser mantida.
Uma necessidade ou uma jogada política?
Em fevereiro deste ano, a comissão recomendou ao Governo que considerasse retomar a caça legal de elefantes, sugerindo a criação de um "enquadramento legal que abra caminho ao crescimento da indústria de caça em safaris e à gestão da população de elefantes do país" e que permita o abate de elefantes "de forma regular mas limitada".
Em setembro, quando a proibição de caça ainda estava em vigor, grupos de conservação disseram ter encontrado 87 elefantes abatidos em poucos meses na zona de Kasane.
A decisão está a dividir opiniões na região e no resto do mundo. Para estes grupos, pode gerar uma matança dos animais sem qualquer regulação, sobretudo considerando as redes de tráfico de marfim que levam muitos caçadores furtivos a matarem os animais para lhes tirarem as presas.
Pelo contrário, habitantes de zonas mais remotas do Botswana, até agora tido como uma história de sucesso no âmbito da conservação da natureza, concordam com o passo do Governo.
"As pessoas que andam livremente na rua estão ocupadas a criticar a decisão do Presidente enquanto o resto de nós continua aqui nas aldeias a temer pelas próprias vidas", escreveu um cidadão do país no Twitter. "Não podemos sair das nossas casas livremente. O Botswana é um país, não é um jardim zoológico. É fácil ter uma opinião quando não são vocês as vítimas, estas pessoas nunca enfrentaram um ataque de elefante, é por isso que lhes chamam 'gigantes gentis'."
Fora do país, também várias celebridades já se manifestaram contra esta decisão.
"Presidente Masisi, por cada pessoa que quer matar elefantes há milhões de outras que querem que eles sejam protegidos. Estamos atentos", escreveu a apresentadora de televisão Ellen DeGeneres.
A atriz Kristin Davis, por sua vez, partilhou o tweet de outro utilizador sobre o que o abate de elefantes tem provocado noutro país africano onde a caça não é proibida.
"Só para lembrar que a Tanzânia perdeu 60% dos seus elefantes nos últimos cinco anos por causa da caça furtiva. Países com populações massivas de elefantes não devem ser complacentes. A caça furtiva não é um negócio de freelancers, os caçadores muitas vezes integram redes criminosas sofisticadas como os cartéis de droga."
Críticos no Botswana dizem que a decisão do Presidente é uma tentativa de atrair o voto dos eleitores rurais nas eleições marcadas para o final deste ano.