24 mai, 2019 - 12:15 • Marta Grosso com agências
A Europa não demorou a reagir ao anúncio de demissão da primeira-ministra britânica, nesta sexta-feira. “Tentei cumprir a escolha que o povo fez [em referendo], mas não consegui”, afirmou Theresa May.
Junker “gostava muito” de May, mas não renegoceia acordo
O presidente da Comissão Europeia diz ter acompanhado “sem alegria pessoal” o anúncio e compromete-se a estabelecer uma relação de trabalho com o novo primeiro-ministro britânico, “seja ele quem for”.
“O presidente Juncker gostava da primeira-ministra May e apreciava trabalhar com ela. Como vincou outras vezes, Theresa May é uma mulher de coragem por quem tem muito respeito”, afirmou a porta-voz do executivo comunitário, Mina Andreeva, numa declaração em nome de Jean-Claude Juncker.
Na conferência de imprensa diária da instituição em Bruxelas, a porta-voz sublinhou que a demissão da líder do Governo britânico não altera a indisponibilidade da Comissão Europeia para renegociar o Acordo de Saída do Reino Unido da União Europeia (UE), firmado entre Bruxelas e Londres em novembro e já ratificado pelo Conselho Europeu.
Bruxelas assume também que a data para o Brexit se mantém, concretizando-se no dia 31 de outubro.
Macron pede rápida clarificação aos britânicos
O Presidente francês, Emmanuel Macron, saúda o "trabalho corajoso" da primeira-ministra britânica, Theresa May, mas pede uma "rápida clarificação" sobre o Brexit aos britânicos.
“Os princípios da União Europeia continuarão a ser aplicados, incluindo a prioridade para preservar o bom funcionamento da UE, que necessita de uma rápida clarificação" sobre o Brexit”, afirma Emmanuel Macron em comunicado.
“A nossa relação com o Reino Unido é fulcral em todas as áreas. É muito cedo para especular sobre as consequências desta decisão” de demissão, declara na mesma nota.
Espanha prevê “mau Brexit”
É quase impossível evitar um mau Brexit depois da demissão da primeira-ministra Theresa May, afirma a porta-voz do governo de gestão espanhol.
“Um mau Brexit parece ser uma realidade qualquer impossível de evitar”, disse Isabel Celaa numa conferência de imprensa, depois da habitual reunião semanal do executivo.
O governo espanhol tem em curso um plano de contingência para fazer face aos efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia, acrescentou.
Irlanda preocupada. Nova fase pode ser “muito perigosa”
A eleição de um novo primeiro-ministro no Reino Unido pode conduzir a uma nova fase do Brexit que pode ser “muito perigosa” para a Irlanda, afirma o primeiro-ministro Leo Varadkar.
“Podemos ter a eleição de um primeiro-ministro eurocético, que repudia o acordo de saída e avança assim mesmo ou podemos ter um novo governo britânico que quer uma relação mais próxima com a União Europeia e convoca um novo referendo”, sugere.
“O que quer que aconteça, vamos manter-nos calmos. Vamos construir e fortalecer as nossas alianças dentro da União Europeia e certificar-nos-emos de que a Irlanda sobrevive a tudo isto”, prometeu.
“Saída ordeira” mantém-se sobre a mesa, diz Holanda
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, reagiu esta sexta-feira o seu respeito e agradecimento à primeira-ministra demissionária.
Numa reação publicada no Twitter, Rutte afirmou que “o acordo alcançado entre a União Europeia e o Reino Unido para uma saída ordeira do país se mantém sobre a mesa”.
Paulo Rangel diz que aumentou “a complexidade” do processo
O cabeça de lista do PSD às europeias considera que a demissão da primeira-ministra britânica "aumenta a complexidade" do Brexit e aconselha Portugal a "manter a atitude de abertura e flexibilidade ao Reino Unido".
"Era algo expectável, depois de o seu plano ter sido derrotado três vezes. E o quarto plano para o Brexit ainda foi mais controverso do que os anteriores. Acho que ela não tinha grandes soluções. Isto vai tornar a questão muito delicada e difícil", sustentou Paulo Rangel, no Porto, à margem de uma visita ao i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde.
O candidato considera ainda que a "União Europeia tem tido um comportamento exemplar" nesta matéria, mas admitiu que a "imprevisibilidade britânica" pode "exasperar ou desesperar" alguns Estados-membros.
Pedro Marques preocupado com saída "dura"
O candidato socialista ao Parlamento Europeu mostra-se preocupado com a possibilidade de os conservadores britânicos que defendem um Brexit duro ganharem força com a demissão de Theresa May.
"Naturalmente, preocupa-me que esta demissão de Theresa May possa significar que os 'hard brexitiers' dentro dos conservadores ganhem força", disse aos jornalistas, à chegada a Moscavide, onde inicia o último dia de campanha.
Para o cabeça de lista socialista, a demissão de May significa que a Europa está "mais longe de um 'Brexit' com acordo", ainda que Pedro Marques tenha a "secreta esperança" de que o Reino Unido venha a permanecer na União Europeia.
O cabeça de lista do PS iniciou o dia na vila de Moscavide, no concelho de Loures, donde parte para um almoço na cervejaria Trindade, em Lisboa, e a tradicional descida ao Chiado, em que estará presente também o secretário-geral o partido, António Costa.
Livre realça "tragédia do Brexit"
O cabeça de lista do Livre às eleições europeias, Rui Tavares, considera que o pedido de demissão da primeira-ministra britânica evidencia a "tragédia do Brexit" e classifica a saída do Reino Unido da União Europeia como “impossível”.
"A história de Theresa May é a história de políticos que tentaram levar a cabo as mentiras que disseram aos seus cidadãos", defende Rui Tavares, à margem da greve climática estudantil, que decorreu esta sexta-feira em Lisboa.
“Qualquer partido que se meta a tentar concretizar um Brexit de acordo com critérios que em 2016 foram falsamente vendidos aos britânicos” estará a tentar consumar algo que "é evidentemente mentira", afirmou ainda.