29 mai, 2019 - 19:48 • Redação com Lusa
O procurador-especial norte-americano Robert Mueller falou esta quarta-feira publicamente pela primeira (e última) vez sobre a investigação da interferência russa nas eleições de 2016, dizendo que não obteve "provas suficientes" para acusar Donald Trump de obstrução de justiça. Robert Mueller, que na intervenção anunciou que vai fechar o seu gabinete de investigação especial e abandonar o Departamento de Justiça, para voltar à sua “vida privada”, disse que “acusar o Presidente (dos EUA) nunca foi uma opção”.
O procurador-especial referia-se ao facto de ser leitura do Departamento de Justiça, instituição para a qual estava a trabalhar, que um Presidente em exercício não pode ser acusado judicialmente, para se referir à componente da investigação sobre a possibilidade de a equipa de Donald Trump ter tentando impedir a investigação. "Se tivéssemos a certeza de que o Presidente não cometeu um crime, teríamos dito isso", explicou Mueller, acrescentando somente que a sua equipa não obteve "provas suficientes" para determinar obstrução de justiça.
Numa breve comunicação televisionada a partir do Departamento de Justiça, Robert Mueller disse que falou pela primeira e última vez sobre esta investigação e que não irá prestar depoimento no Congresso, porque não poderia “ir além do que está no relatório”. Mueller confirmou que a sua investigação concluiu a existência de provas de interferência russa nas eleições presidenciais de 2016, através de notícias falsas que foram divulgadas nas redes sociais digitais por russos que se fizeram passar por norte-americanos, procurando influenciar o voto dos eleitores.
Mueller explicou que a sua investigação apresentou provas de crimes “persistentes e continuados” por parte de agentes russos, para afetar o resultado das eleições presidenciais em que Donald Trump venceu a candidata Democrata, Hillary Clinton, mas que qualquer condenação neste processo fica para os tribunais.
Sobre a investigação acerca da hipótese de a equipa de campanha de Donald Trump ter tentando obstruir a justiça – o que seria um crime passível de um processo de destituição para o Presidente – Mueller disse que não encontrou “provas suficientes” para fazer essa alegação. O procurador-especial disse ainda que apresentar uma acusação contra o Presidente por obstrução de justiça “nunca foi uma opção”, já que foi decisão do Departamento de Justiça – que faz parte do governo de Donald Trump – não permitir uma acusação sobre um Presidente em exercício.
Por isso, disse, o relatório não foi conclusivo relativamente à questão da obstrução de justiça, embora reconheça que também não foram encontradas “provas conclusivas” nesse sentido. Mueller disse ainda que nesta investigação foram “investigadas matérias de grande importância”, rejeitando as acusações que lhe foram feitas nos últimos meses por Donald Trump, que acusou o trabalho do procurador de ser uma “caça às bruxas”.
Robert Mueller disse que o seu relatório é o seu “testemunho” e que não voltará a falar publicamente sobre esta questão, dizendo que nunca foi pressionado para não prestar depoimentos no Congresso, mas que não o fará, como pretende o Partido Democrata, porque não tem “mais nada para dizer”, para além do que escreveu no processo. Assim, Robert Mueller irá fechar o seu gabinete de investigação especial e abandonar o Departamento de Justiça, para voltar à sua “vida privada”.
Robert Mueller e a sua equipa investigaram o caso russo desde maio de 2017, quando foi nomeado para averiguar a possibilidade de ter havido interferência russa nas eleições presidenciais do ano anterior. No decurso da investigação, suspeições de obstrução à justiça por parte da equipa de campanha de Donald Trump levaram Mueller a proceder a uma investigação sobre essa possibilidade.
Perante a indecisão do relatório sobre esta questão já levou o Partido Democrata a admitir a possibilidade de iniciar um processo de ‘impeachment’ a Donald Trump na Câmara de Representantes, onde tem maioria. Contudo, o Partido Republicano já anunciou que reprovaria esse processo no Senado, onde tem maioria, e o próprio Partido Democrata está dividido sobre esta hipótese, com a própria líder parlamentar, Nancy Pelosi, a dizer que ainda não é tempo para tomar decisão sobre o tema.