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"Sea Watch 3"

Navio humanitário com 42 migrantes a bordo "desafia" Salvini e entra em águas italianas

26 jun, 2019 - 17:12 • Redação com Lusa

Migrantes estão retidos a bordo da embarcação há 14 dias. “Decidi entrar no porto de Lampedusa. Sei o que estou a arriscar, mas estas pessoas estão exaustas. Estou a levá-las para um lugar seguro”, afirmou Carola Rackete, capitã do "Sea Watch 3".

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O navio humanitário "Sea Watch 3" decidiu esta quarta-feira romper o bloqueio imposto pelo Governo de Itália e entrar em águas territoriais italianas para fazer o desembarque dos 42 migrantes, retidos a bordo daquela embarcação há 14 dias.

O "Sea Watch 3", de uma organização não-governamental alemã com o mesmo nome, encontrava-se perto das águas territoriais italianas, em frente da ilha de Lampedusa, depois de ter resgatado, a 12 de junho, este grupo de migrantes, inicialmente composto por 53 pessoas, que estava a bordo de um bote de borracha ao largo da Líbia.

“Decidi entrar no porto de Lampedusa. Sei o que estou a arriscar, mas os 42 [migrantes] estão exaustos. Estou a levá-los para um lugar seguro”, disse na rede social Twitter Carola Rackete, a jovem capitã alemã do "Sea Watch 3".

Os dados relativos ao navio disponíveis em sites especializados em tráfego marítimo, citados pelas agências internacionais, mostram que a embarcação tomou, ao início da tarde, a direção do porto de Lampedusa, depois de ter navegado durante vários dias ao longo da linha das águas territoriais italianas.

“Iremos usar todos os meios democráticos que permitam bloquear este insulto ao direito e às leis”, reagiu o ministro do Interior e líder da extrema-direita italiana (Liga), Matteo Salvini, num vídeo transmitido em direto na rede social Facebook. O também vice-primeiro-ministro italiano denunciou o “pequeno jogo político sórdido” realizado pela organização não-governamental (ONG), mas também a indiferença manifestada pela Holanda e pela Alemanha. Os governos de Berlim e de Haia “irão responder” por tal situação, ameaçou Salvini.

Na passada quinta-feira, Matteo Salvini já tinha deixado claro que a proibição de desembarque destes migrantes em território italiano era para manter. “O navio ‘Sea Watch 3’ não se importa com as regras e participa no tráfico de pessoas. Não darei autorização para atracar, nem agora, nem no Natal ou no Ano Novo, aos que não se importam com as regras”, afirmou então o ministro do Interior italiano, em declarações a uma rádio local.

A jovem capitã alemã de 31 anos e os responsáveis pela ONG Sea-Watch arriscam enfrentar um processo judicial por suspeita de ajuda à imigração ilegal, bem como a apreensão do navio e uma coima de 50.000 mil euros, de acordo com um novo decreto assinado por Salvini.

Foi conhecido recentemente que um ativista português, Miguel Duarte, e mais nove ex-tripulantes da embarcação ‘Iuventa’, um navio de uma outra ONG alemã de resgate humanitário no Mediterrâneo, foram constituídos arguidos e estão sob investigação em Itália por suspeita de ajuda à imigração ilegal.

Na terça-feira, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos rejeitou um recurso da Sea Watch que pedia medidas excecionais que obrigassem o Governo italiano a autorizar o desembarque destas 42 pessoas e pediu às autoridades italianas que “continuassem a fornecer toda a assistência necessária” às pessoas vulneráveis a bordo da embarcação. Entre os 53 migrantes que foram resgatados a 12 de junho, as autoridades italianas autorizaram o desembarque de 11 pessoas consideradas como vulneráveis (crianças, mulheres e doentes).

Em terra, dezenas de cidades alemãs já manifestaram disponibilidade para receber estes migrantes, e o bispo de Turim, Cesare Noviglia, anunciou, na segunda-feira, que a sua diocese também estava disponível para acolher estas pessoas. Um pároco de Lampedusa, Carmelo La Magra, está acampado há vários dias junto de uma igreja local para exigir o desembarque destes migrantes.

Em janeiro passado, 32 migrantes resgatados pelo ‘Sea Watch 3’ permaneceram retidos no mar a bordo do navio durante 18 dias. Estas pessoas conseguiram depois desembarcar em Malta por causa de um acordo de distribuição acordado entre vários países europeus, incluindo Portugal.

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