27 jun, 2019 - 13:02 • Agência Lusa
Os dez primeiros pré-candidatos democratas à Casa Branca iniciaram a disputa eleitoral norte-americana num debate em que atacaram as políticas migratórias, fiscais, diplomacia e o recuo do atual Presidente na luta contra as alterações climáticas.
Donald Trump mal foi mencionado, mas as principais medidas da sua administração foram criticadas diretamente.
A mensagem central dos democratas pode resumir-se ao discurso final do ex-secretário de Habitação, no qual Julián Castro disse em espanhol que farão todo o possível para "dizerem adeus" a Trump em 2020.
O único hispânico entre os pré-candidatos do Partido Democrata não foi o único a falar em espanhol, língua em que o ex-congressista Beto O'Rourke e o senador Cory Booker se expressaram em diversas ocasiões.
Enquanto Trump viajava para o Japão, onde vai decorrer a cimeira do G20, e comentava na rede social Twitter os problemas técnicos do debate e o classificava como "aborrecido", os dez democratas criticaram as grandes linhas da sua presidência.
A senadora Elizabeth Warren, a única entre os presentes que integra o grupo dos cinco pré-candidatos que lideram as sondagens, abriu um debate histórico porque pela primeira vez havia mais duas mulheres, além dela: as congresistas Amy Klobuchar e Tulsi Gabbard.
O debate começou por se concentrar na economia, o ponto em que Trump mais se apoia, com uma taxa de crescimento anual de 3,1% no primeiro trimestre e a taxa de desemprego na ordem dos 3,6%, em níveis nunca vistos em quase meio século.
Warren, contudo, centrou-se na desigualdade e nas assimetrias, que alegou manterem-se no país com cada vez menos a beneficiarem da conjuntura.
A crítica foi comum entre os dez democratas, como Beto O'Rourke, que surpreendeu todos ao defender em espanhol que é necessário "incluir todos nessa economia".
No mesmo sentido, o autarca de Nova Iorque, Bill de Blasio, sublinhou que "há muito dinheiro no mundo, mas está nas mãos erradas".
O congressista Tim Ryan frisou a necessidade de os democratas se unirem e apresentarem soluções para a classe trabalhadora.
Sobre esta matéria, o ex-congressista John Delaney disse que o Partido Democrata deve concentrar-se não tanto em Trump e na possível interferência russa nas eleições de 2016, mas nos problemas diários da população, como o emprego ou a qualidade de vida.
As propostas mais progressistas desta campanha democrática estão a ser apresentadas na área da saúde, como a ideia de cuidados públicos universais, algo que até recentemente era impensável nos Estados Unidos.
Warren e Gabbard asseguraram que a saúde é um "direito humano básico" e, com algumas pequenas diferenças, a ideia de cuidados de saúde pública para toda a população era apoiada pelos dez pré-candidatos, embora O'Rourke e Delaney a preferirem que as pessoas possam manter planos de saúde privados.
Outro ponto em que os moderadores do debate não conseguiram encontrar muitas diferenças foi no assunto do aborto, tema em que Castro foi muito aplaudido ao dizer não acreditar apenas em "liberdade reprodutiva", mas em "justiça reprodutiva".
Castro voltou a ser o centro das atenções quando falou em imigração, destacando ter sido o primeiro de todos a apresentar um plano que evitaria casos como a morte do pai salvadorenho Óscar Alberto Martínez e filha, este fim de semana, no Rio Grande.
As suas mortes e a de muitos outros migrantes são devidas, segundo os democratas, às duras políticas de imigração de Trump.
Esta questão foi a razão do primeiro grande confronto da noite, entre o próprio Castro e O'Rourke, especificamente por uma secção que criminaliza a travessia ilegal dos indocumentados, o que dificulta qualquer tentativa de permanecerem legalmente nos EUA.
A proposta de Castro é que deixe de ser um crime, porque não se pode "criminalizar o desespero", defendeu, desafiando O'Rourke que tem recusado a apoiar esta medida.
Em resposta, O'Rourke alegou que essa possibilidade podia incentivar o tráfico humano.
A intervenção de Gabbard foi também uma das mais marcantes quando se discutiu a tensão diplomática com o Irão, ao apelar a todos os norte-americanos para se levantarem contra uma possível guerra que, na sua opinião, seria mais devastadora do que a Guerra do Iraque (2003-2011) e exacerbaria a crise de refugiados na região.
Booker foi o único a concordar que Washington fez bem em abandonar o acordo nuclear com Teerão e explicou que aproveitaria agora a oportunidade, como Presidente, para negociar um melhor tratado nesta matéria.
Gabbard disse mais tarde que o principal desafio do país é um possível conflito nuclear, enquanto o governador do estado de Washington, Jay Inslee, apontou para Trump como a "principal ameaça", ideia que Klobuchar reforçou, lembrando que Trump está a dez minutos e a uma publicação no Twitter de envolver o país num conflito armado com Teerão.
Hoje, haverá novo debate entre outros dez candidatos, incluindo Biden e o senador Bernie Sanders, que lideram as sondagens.