02 jul, 2019 - 20:06 • Tiago Palma
Ursula Gertrud von der Leyen. Depois de um impasse que tardou em resolver-se, eis que Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, anunciou, ao final da tarde desta terça-feira, que os líderes dos Governos europeus haviam escolhido a ministra da Defesa alemã como sucessora de Jean-Claude Juncke na liderança da Comissão Europeia.
Nascida em Bruxelas faz já seis décadas mas alemã de berço e nacionalidade, há muito que Ursula von der Leyen é figura de proa no que à política alemã diz respeito, tendo sido vista, durante anos, como a mais que provável sucessora da chanceler Angela Merkel, de quem é desde 2010 vice-presidente no partido democrata-cristão CDU e, atualmente, ministra da Defesa.
A política esteve-lhe sempre presente antes mesmo de chegar a ela, filha que é de Ernst Albrecht, um outrora funcionário europeu e, posteriormente, primeiro-ministro (entre 1976 e 1990) do estado da Baixa Saxónia. Estudou e exerceu medicina (antes dedicara-se à economia na faculdade, mas não tardaria a desistir) na viragem da década de 1980 para a de 1990, tendo, pouco tempo volvido (e já depois de aderir à CDU) sobre o Juramento de Hipócrates, trocado de profissão, ocupando diversos cargos políticos (locais e estaduais) na Baixa Saxónia.
Virado o século, a ascensão de Ursula von der Leyen foi, no mínimo, célere. Logo em 2004 vê-se eleita para o comité de liderança do partido, tendo um ano depois sido nomeada ministra dos Assuntos Sociais no primeiro governo de Angela Merkel, cargo no qual foi reconduzida quatro anos depois, tendo em 2013 assumido a Defesa – pasta que nunca antes fora ocupada por uma mulher.
Casada há 33 anos com Heiko von der Leyen, de quem tem sete filhos, enquanto ocupou a pasta dos Assuntos Sociais Ursula bateu-se, com sucesso, por diversas causas, nomeadamente o pagamento de licença parental e a introdução de uma quota para mulheres nas administrações das empresas. Contudo, o percurso governativo de Ursula von der Leyen não foi sempre de sucesso e acabaria “manchado”, já na Defesa, quando em 2017 uma investigação denunciava a existência de militares de extrema-direita (que reverenciavam, largamente, a “Wehrmacht”, o exército hitleriano, no seu exercer de funções) nas Forças Armadas. O caso mais alarmante acabaria por ser o de Franco A., um militar que, fazendo-se passar por refugiado sírio, pretendia perpetrar um ataque e culpabilizar aquela falsa identidade por ele criada e, assim, disseminar o racismo.
Nos últimos anos, e dentro da própria CDU, Ursula foi perdendo peso político no que à sucessão de Merkel diz respeito – foi Annegret Kramp-Karrenbauer quem acabou eleita secretária-geral do partido democrata-cristão –, ganhando-a agora, não para suceder à chanceler, mas para o ocupar um cargo que sempre foi historicamente, e desde a sua criação, em 1958, ocupado por homens.
Caso veja a sua nomeação aprovada no Parlamento Europeu, Ursula von der Leyen terá como vice-presidentes o socialista holandês Frans Timmermans e a dinamarquesa (e actual comissária europeia para a Concorrência) Margrethe Vestager.