16 jul, 2019 - 17:25 • João Pedro Barros
Ursula von der Leyen foi esta terça-feira confirmada pelo Parlamento Europeu como nova presidente do Comissão Europeia. A ministra da Defesa alemã, de 60 anos, foi aprovada com 383 votos a favor, mas nove do que os 374 necessários. Houve ainda 327 votos contra, 22 abstenções e um nulo, num total de 733 votos depositados em urna. Conseguiu assim, para além do apoio da sua família política, o Partido Popular Europeu (PPE), com grande parte dos votos dos socialistas e dos liberais.
“Sinto-me honrada e muito emocionada. Queria agradecer a confiança depositada em mim, que é a confiança depositada na Europa, numa Europa unida e forte, de leste a oeste, de norte a sul. Uma Europa pronta para votar pelo seu futuro e não de uns contra os outros. A Europa vai assumir os grandes desafios do nosso tempo em conjunto. É uma responsabilidade enorme e o meu trabalho começa agora. Queria agradecer aos vários líderes dos grupos parlamentares, agora vamos trabalhar em conjunto, porque o nosso esforço é por uma Europa unida e forte”, discursou von der Leyen no hemiciclo, logo após conhecer os resultados.
Ursula von der Leyen, outrora vista como a mais provável sucessora de Angela Merkel na Alemanha – mas indiscutivelmente alguém da confiança da chanceler – é a primeira mulher a ocupar o cargo. Von der Leyen sucede ao luxemburguês Jean-Claude Juncker, que fez apenas um mandato (cinco anos). Antes, o português Durão Barroso tinha cumprido dois (2004-2014).
O mandato deverá começar no dia 1 de novembro. O Parlamento Europeu terá ainda de aprovar a Comissão no seu todo (presidente, comissários indigitados, Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros), o que deverá acontecer na sessão plenária de 21 a 24 de outubro. As audições dos comissários indigitados nas comissões parlamentares competentes deverão realizar-se de 30 de setembro a 8 de outubro.
Como votaram os partidos portugueses?
Carlos Zorrinho, líder da delegação do Partido Socialista ao Parlamento Europeu, justificou o voto favorável já anunciado pelo primeiro-ministro António Costa. Segundo o socialista, Von der Leyen "foi ainda mais convincente” no debate em plenário do que “aquilo que tinha sido na carta que enviou ao S&D [família socialista no Parlamento Europeu]", ao cobrir "alguns temas que tinham ficado um pouco a descoberto, como o das migrações, o do Estado de Direito", e ao voltar a insistir "na importância do investimento, da flexibilidade, do pilar social".
PSD e CDS são da mesma família política de Ursula von der Leyen, sendo por isso natural um voto positivo. Paulo Rangel, do PSD, estimou que a eleição por um voto “já seria uma vitória” e que obter mais de 400 votos seria "uma grande vitória" e "uma grande alavanca". O eurodeputado considera que a alemã mostrou "uma visão e uma ambição para a Europa” e “procurou fazer um compromisso entre as diferentes exigências dos grupos parlamentares”.
No entanto, Nuno Melo, do CDS-PP, admitiu de manhã estar ainda "numa fase de ponderação". O eurodeputado centrista recordou que é "crítico" do processo de designação de Ursula Von der Leyen, que considerou "uma intromissão do Conselho Europeu naquilo que são prerrogativas" da assembleia europeia. Melo referia-se ao facto de o princípio dos “Spitzenkandidaten” (termo alemão para candidatos principais) ter sido ignorado.
O grupo da Esquerda Unitária, que integra Bloco de Esquerda (BE) e PCP, já tinha anunciado que não apoiaria a candidata indigitada, ao considerar "insuficientes" as suas propostas em temas como as alterações climáticas e migrações. A eurodeputada Marisa Matias (BE), considerou que Von der Leyen apresentou "medidas avulsas para agradar a toda a gente". João Ferreira, do PCP, defendeu que von der Leyen é "a candidata das desigualdades entre países" e do "grande consenso que tem mandado na União Europeia nas últimas décadas".
Os Verdes também optaram pelo veto. O único eurodeputado português desta família europeia – Francisco Guerreiro, do PAN – considerou que a alemã pronunciou "um discurso redondo que tenta agradar a generalidade do statu quo", no qual não apresentou propostas concretas para combater as alterações climáticas.