21 jul, 2019 - 22:43 • Redação com Lusa
A Igreja Católica pediu este domingo ao Governo do Presidente Nicolás Maduro e à oposição que agilizem um acordo que permita acabar com o sofrimento dos venezuelanos, que atenda à crise humanitária e que dê segurança jurídica à população. “Não é a guerra, não é a violência nem as armas, que vão trazer-nos a paz mas a racionalidade e a consideração de que o outro, mesmo que pense diferente, é tão venezuelano como nós e que necessitamos unir-nos para construir juntos o país que sonhamos” disse o arcebispo de Caracas.
Em declarações aos jornalistas, o arcebispo Baltazar Enrique Porras Cardozo advertiu que se não houver um acordo entre o Governo e a oposição, nas negociações que decorrem em Barbados sob o auspício da Noruega, “não haverá solução para a crise”. “Por isso a nossa insistência em que os atores entendam que a única maneira de sair da crise, de maneira pacífica e racional é abrindo-se ao que é fundamental”, disse.
O cardeal frisou ainda que “é moralmente inaceitável desprezar a vida, não tomar em conta os venezuelanos ou estar procurando outras coisas” e explicou que há muitas variáveis a ter em conta para que venham a ocorrer eleições presidenciais na Venezuela. “Porque se destruiu a confiança no sistema [eleitoral] e há que oferecer condições mínimas para que a população sinta que não estão brincando com ela. Que tanto os que estão no estrangeiro como os que estão aqui, os partidos inabilitados [oficialmente impedidos] como as que pessoas que não podem exercer os seus direitos políticos o possam fazer como venezuelanos”, disse.
Segundo o arcebispo, os venezuelanos estão “na presença de um Estado falido e perante uma Estado criminoso, pela quantidade de execuções extrajudiciais, pelo desaparecimento de muita gente e pelos que são submetidos a reclusão sem cumprir com requisitos mínimos, simplesmente porque pensam diferente ou porque pensam que dissentir ou manifestar-se é um delito, quando é um direito de todos”.
Por outro lado, recordou que a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, e o Papa Francisco têm pedido que “se supere o sofrimento do povo venezuelano, a falta de coisas fundamentais e de instituições que devem estar ao serviço das pessoas, mas estão ao serviço de uma parcialidade política”. “Também ficamos órfãos de afeto porque os nossos seres queridos partem, em situações cada dias mais complicadas. É tal a magnitude de gente nossa que emigrou que se converte num problema político para a nossa região e além das nossas próprias fronteiras”, disse.
O Governo venezuelano e a oposição retomaram, a 15 de julho, as conversações para se encontrar uma solução para a crise na Venezuela. As conversações, sob a mediação do Governo da Noruega, decorrem em Barbados, onde ambas delegações já se tinham reunido recentemente.
A delegação do Governo do Presidente Nicolás Maduro é liderada pelo governador do estado venezuelano de Miranda, Hector Rodríguez, e a da oposição pelo advogado e político venezuelano Stalin González. A oposição, que conta com o apoio dos Estados Unidos, pretende afastar o Presidente Nicolás Maduro do poder, para formar um Governo de transição e convocar eleições livres no país.
A crise venezuelana agravou-se em janeiro, quando o presidente do parlamento (onde a oposição detém a maioria), Juan Guaidó, jurou assumir as funções de Presidente interino da Venezuela.