18 ago, 2019 - 16:52 • Redação com agências
A chuva por vezes forte não desmobilizou centenas de milhares de pessoas que se manifestaram este domingo em Hong Kong, no início a 11.ª semana de mobilização pró-democracia, que já conheceu momentos bastante violentos, nomeadamente no aeroporto local, na terça-feira.
De acordo com a organização que tem liderado os grandes protestos contra a lei da extradição, mais de 1,7 milhões de pessoas manifestaram-se pacificamente, provando que ainda há um largo apoio da população do território sob administração especial da China (quase 7,5 milhões de pessoas) às reivindicações.
"Está muito quente e está a chover. Sinceramente, é uma tortura estar aqui. Mas temos de estar cá porque não temos alternativa”, disse à Reuters um estudante de 24 anos chamado Jonathan.
Em conferência de imprensa, a Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH) sublinhou, contudo, que devido às restrições impostas da polícia, muitos acabaram por não conseguir chegar ao local da manifestação, que foi autorizada, apesar da marcha agendada ter sido proibida.
Este é o segundo maior protesto desde que as manifestações começaram em junho.
Em 9 de junho, a organização contabilizou um milhão de pessoas, em 12 de junho meio milhão e em 16 de junho dois milhões, praticamente um terço da população de Hong Kong.
A grande adesão lançou o caos no centro de Hong Kong, com estradas cortadas e os transportes na cidade seriamente afetados, em especial o metro e os autocarros.
Com o cair da noite alguns milhares de manifestantes ‘acamparam’ à porta do parlamento, muito perto do quartel general da polícia que tinha autorizado a manifestação, mas não a marcha.
Os jovens, a esmagadora maioria dos manifestantes, protestam à frente da sede do parlamento de Hong Kong, gritando palavras de ordem e apontando ‘lasers’ às forças de segurança.
Vários elementos das forças de segurança posicionarem-se em zonas-chave no centro da cidade, como foi o caso do Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong e do parlamento: o primeiro foi um dos alvos dos manifestantes, o segundo chegou mesmo a ser invadido e parcialmente vandalizado, em julho.
O que é que está em causa?
A porta-voz do movimento que tem liderado os protestos pró-democracia em Hong Kong disse este domingo à Lusa que o derradeiro objetivo dos manifestantes é garantir o sufrágio universal no território.
A também vice-coordenadora da FFCDH, Bonnie Leung, explicou que os protestos que duram há nove semanas focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da extradição, que permitiria a extradição de suspeitos para a China.
Contudo, hoje as reivindicações dos manifestantes contemplam a exigência do sufrágio universal, tanto para a eleição do chefe do Governo, como para o Conselho Legislativo.
A lista de reivindicações tem sido alvo de ajustes. Primeiro somaram-se exigências, mas este domingo o habitual pedido de demissão da chefe do Governo foi aparentemente substituído pela reivindicação pelo sufrágio universal.
Os manifestantes exigem a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
Depois das manifestações de junho que juntaram milhões nas ruas, após uma greve geral que paralisou a cidade, de contestações marcadas por violentos confrontos e de dias de caos vividos no aeroporto, a FCDH volta a promover um protesto pacífico para aumentar a pressão sobre o Governo de Hong Kong, num momento em que Pequim mobilizou milhares de tropas na cidade vizinha de Schenzen, fazendo crescer os receios de uma intervenção chinesa.
Há mais de dois meses que Hong Kong é palco de protestos, marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que tem usado balas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”, precisamente o que os opositores às alterações da lei da extradição garantem estar agora em causa.
Para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.