23 ago, 2019 - 14:24 • Lusa
Emmanuel Macron acusa Jair Bolsonaro de mentir sobre compromissos ambientais e anuncia que, nestas condições, França vai votar contra o acordo de comércio livre UE-Mercosul.
“Tendo em conta a atitude do Brasil nas últimas semanas, o Presidente da República não pode se não constatar que o presidente Bolsonaro lhe mentiu na Cimeira de Osaka”, afirmou fonte da presidência francesa, referindo-se à Cimeira do G20 que se realizou no final de junho.
“O presidente Bolsonaro decidiu não respeitar os compromissos ambientais e não se empenhar em matéria de biodiversidade. Nestas condições, França opõe-se ao acordo com o Mercosul tal como está”, acrescentou.
Emmanuel Macron manifestou, na quinta-feira, preocupação com os fogos florestais que estão a devastar a Amazónia, a maior floresta tropical do planeta, evocando uma “crise internacional” e pedindo aos países industrializados do G7 “para falarem desta emergência” na cimeira que os reúne este fim de semana, em Biarritz, no sudoeste de França.
Jair Bolsonaro, por sua vez, acusa o homólogo francês de ter “uma mentalidade colonialista descabida” ao “instrumentalizar” o assunto e ao propôr que “assuntos amazónicos sejam discutidos no G7, sem a participação dos países da região”.
O acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), integrado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, foi fechado a 28 de junho, depois de 20 anos de negociações.
O pacto abrange um universo de 740 milhões de consumidores, que representam um quarto da riqueza mundial.
Esta sexta-feira, a Irlanda ameaçou também votar contra o acordo comercial se o Brasil não tomar medidas para proteger a floresta amazónica.
“Não há qualquer forma de a Irlanda votar a favor do acordo de comércio livre entre a UE e o Mercosul se o Brasil não respeitar os seus compromissos ambientais”, afirmou o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar.
“Estou muito preocupado com os níveis recorde de destruição pelo fogo da floresta amazónica este ano”, acrescentou, numa nota à agência France-Presse.
Em entrevista à agência EFE, o embaixador da UE em Brasília, Ignácio Ybáñez, destacou o empenho do Brasil na aplicação do acordo, mas recordou a Bolsonaro a “aposta clara” do acordo no cumprimento do acordo de Paris sobre alterações climáticas.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro, os incêndios no Brasil aumentaram 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de agosto, sendo a Amazónia a região mais afetada.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo, com cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados, e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta.
Segundo o INPE, a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em julho, em relação ao mesmo mês de 2018.