23 ago, 2019 - 11:45 • Marta Grosso
Depois de 14 dias em busca de um porto para atracar, o navio “Ocean Viking” viu finalmente os seus pedidos atendidos com a oferta de Malta.
“Estamos aliviados por esta longa provação das 356 pessoas que temos a bordo tenha finalmente acabado”, afirma a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em comunicado emitido nesta sexta-feira de manhã.
E questiona: “seria necessário impor duas semanas de espera excruciante para que as pessoas resgatadas fossem desembarcadas? Estas são pessoas que fugiram de circunstâncias desesperadas em seus países de origem e sofreram terríveis abusos na Líbia”, sublinha Jay Berger, coordenador de projeto da MSF a bordo do “Ocean Viking”.
A bordo do navio estão 105 homens e adolescentes; 29 são menores, incluindo duas crianças com 5 e 12 anos.
Esta sexta-feira, Hannah Wallace Bowman, da MSF, afirmou à Renascença que a situação a bordo era de “crescente tensão” dada a falta de mantimentos.
“Estimamos que temos cerca de cinco dias de rações normais e 13 dias após alguns salvamentos. Isto, porque fizemos o primeiro salvamento no dia 9 de agosto. Além disso, começa a ser difícil explicar o porquê de não podermos desembarcar”, descreveu.
No comunicado enviado posteriormente, a organização indica que os feridos de guerra já foram tratados.
“Vimos as cicatrizes daqueles que passaram pelos ataques aéreos do centro de detenção da Tajoura; conversámos com os sobreviventes de naufrágios e intercetações; ouvimos histórias de espancamentos brutais, eletrocussão, tortura – incluindo violência sexual – e até mesmo crianças não isentas desses horrores”, aponta Jay Berger.
Os Estados europeus devem fazer uma análise mais profunda para o papel que estão a desempenhar ao permitirem que as pessoas fiquem presas e sejam armadilhadas nessas situações”, acrescenta.
A MSF sublinha, por isso, a urgência de os governos europeus porem fim a estas demoras prolongadas nos desembarques e estabelecerem um mecanismo sustentável e previsível de desembarques das pessoas socorridas no mar.
O “Ocean Viking” resgatou os primeiros migrantes a 9 de agosto, ao largo da Líbia. Depois disso, foram feitos outros salvamentos de homens, mulheres e crianças. Muitos dos menores estão sozinhos.
Os primeiros pedidos de desembarque foram feitos a Malta e a Itália, mas a resposta foi negativa.
Portugal disponibilizou-se para receber 35 pessoas, à semelhança de outros quatro países, respondendo a um apelo da Comissão Europeia.
Lisboa, que tem participado ativamente em todos os processos de acolhimento, defende uma solução europeia integrada, estável e permanente para responder ao desafio migratório.