O líder da associação ambientalista ZERO, Francisco Ferreira, disse esta segunda-feira que a manterem-se os níveis atuais de desflorestação da Amazónia esta pode deixar de ser um dos ecossistemas mais importantes do mundo, dentro de 15 a 20 anos.
"Se continuássemos ao ritmo de há alguns anos teríamos mais 20 a 25 anos de Amazónia. Assim, teremos apenas 15 a 20 anos e se calhar ainda menos", afirmou Francisco Ferreira, em declarações à Lusa, no Largo Camões, em Lisboa, onde participou
na manifestação em defesa daquela floresta, organizada por vários movimentos ativistas brasileiros e que juntou, segundo estimativas da PSP no local, cerca de 700 pessoas.
Francisco Ferreira lembrou que a "Amazónia, no mês de julho, teve uma taxa de desflorestação três vezes superior àquilo que tem acontecido nos últimos anos".
"E, em termos de emissões de carbono, principalmente à custa do núcleo principal da floresta amazónica, os prejuízos são enormes", alertou.
Considerando que é um território maioritariamente do Brasil, Francisco Ferreira salientou estar em curso a "destruição de um património que é de todos" e que "tem de ser devidamente cuidado".
O dirigente da ZERO defendeu ser "necessária a pressão mediática, de cada um dos países, das Nações Unidas, para que
o dinheiro que é investido [em defesa da conservação da Amazónia] tenha os resultados esperados".
"Há alguma esperança de isso venha a resultar e nós consigamos inverter a tendência destes últimos tempos, que tem sido realmente devastadora e que leva a Amazónia a poder deixar de ser um dos sistemas ecológicos mais importantes do mundo", afirmou Francisco Ferreira.
Para o ambientalista,
as medidas anunciadas após a reunião do G7 (dos sete países mais industrializados do mundo) que decorreu em França, com quase 18 milhões de euros de apoios para o combate aos incêndios na Amazónia e a criação de um fundo para a florestação, "são bem-vindas, mas insuficientes".
Francisco Ferreira, que marca presença em vários fóruns internacionais sobre questões ambientais, referiu que têm sido investidos muito milhões na Amazónia, mas os resultados não são os esperados.
O que se tem verificado "é que a desflorestação não tem parado e, portanto, o que é preciso é garantir que as Nações Unidas e os vários países se concertem em relação a terminar com a desflorestação na Amazónia", declarou, acrescentando: "Porque nós estamos a gastar muitos milhões de forma inconsequente".
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta.
Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
O número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de agosto, sendo a Amazónia a região mais afetada.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais brasileiro anunciou que a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em julho, em relação ao mesmo mês de 2018.