26 set, 2019 - 14:45 • João Pedro Barros com Reuters
A Comissão de Serviços de Informação da Câmara dos Representantes tornou pública, esta quinta-feira, a quase totalidade da queixa do denunciante sobre a conversa telefónica entre os Presidentes dos Estados Unidos e da Ucrânia, que desencadeou o inquérito formal de destituição de Donald Trump por parte do Partido Democrata. No documento, Trump é acusado de pedir ajuda externa para interferir nas Presidenciais de 2020.
O denunciante argumenta que as ações do Presidente “colocam em risco a segurança nacional” e representam um sério abuso de poder. “No âmbito dos meus deveres oficiais, recebi informação de vários funcionários do Governo de que o Presidente dos EUA está a utilizar o poder do seu cargo para solicitar interferência de um país estrangeiro na eleição de 2020”, pode ler-se no documento.
Os acontecimentos não foram testemunhados na primeira pessoa, ressalta o texto, mas foram-lhe contados por várias pessoas, seguindo sempre a mesma narrativa, e correspondem também a informação já publicamente revelada.
“Vários funcionários da Casa Branca com conhecimento direto da chamada informaram-me que, depois de uma troca inicial de cumprimentos, o Presidente utilizou o resto da chamada para fazer avançar os seus interesses pessoais”, nomeadamente para pressionar Volodymyr Zelensky, o líder ucraniano, de forma a que este “ajudasse o Presidente na sua reeleição”.
No memorando de sete páginas, que inclui ainda um anexo de duas páginas parcialmente censurado, há vários detalhes que correspondem com exatidão à transcrição da chamada divulgada pela administração de Donald Trump.
Por exemplo, o denunciante refere a solicitação de uma “investigação” sobre as atividades do antigo vice-presidente (e potencial adversário na corrida de 2020) Joe Biden e do seu filho Hunter Biden, bem como pedidos para localizar servidores utilizados pelos Democratas e para trocar informações com o seu advogado Rudy Giuliani e com o Procurador-geral William Barr.
A novidade deste documento é que advogados da Casa Branca terão instruído funcionários para esconder o registo da chamada. Em vez de ser guardada no sistema habitual, a transcrição terá sido “dirigida” para um “sistema eletrónico isolado”, que é utilizado para “guardar e arquivar informação classificada de natureza especialmente sensível”, acusa o denunciante.
Porém, “nada na chamada continha algo que pudesse ser sequer remotamente perigoso em termos de segurança nacional”.