04 out, 2019 - 12:22 • Marta Grosso
As autoridades de saúde norte-americanas estão cada vez mais preocupadas com o aumento de problemas associados ao consumo de “tabaco químico ou vaporizado”. Os danos pulmonares são “semelhantes ao que se pode ver com exposições a vapores químicos tóxicos, gases venenosos e agentes tóxicos”, refere um estudo divulgado esta semana.
Nos Estados Unidos, o número de casos confirmados e prováveis de doenças relacionadas com o chamado “vaping” (cigarros a vapor, mas em cuja designação já se incluem os eletrónicos) já atingiu os 1.080.
Foram relatados em 48 estados e nas Ilhas Virgens americanas, de acordo com dados divulgados na quinta-feira pelos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças.
Segundo a mesma fonte, há 18 mortes confirmadas em 15 estados, sendo que pouco depois da divulgação dos números foi conhecido mais um caso fatal (o 19.º) no estado do Connecticut.
Outras mortes continuam sob investigação. Face aos dados, uma das maiores cadeias de distribuição nos EUA, o Walmart, decidiu suspender a venda de cigarros eletrónicos.
Tornou-se um fenómeno mundial mas não há qualquer (...)
As primeiras doenças alegadamente relacionadas com os cigarros não convencionais apareceram no final de março, mas o número não parou de aumentar e a bom ritmo. O surto aconteceu em junho e, de acordo com a norte-americana CBS, foram recentemente detetados 200 ou mais casos a cada semana.
Apenas os estados do Alasca e do New Hampshire ainda não comunicaram casos.
Como estar num acidente industrial
Os médicos dizem que os casos que lhes chegam se assemelham a lesões por inalação. Os sintomas incluem falta de ar severa, fadiga e dor no peito.
O dano pulmonar assemelha-se “ao que se pode ver com exposições a vapores químicos tóxicos, gases venenosos e agentes tóxicos”, refere o patologista cirúrgico Brandon Larsen da Mayo Clinic Arizona, entidade responsável pelo último relatório sobre o fenómeno.
Brandon Larsen e a sua equipa estudaram as biópsias de 17 pacientes com doenças relacionadas com os cigarros eletrónicos. Alguns pacientes do estudo apenas usaram vapores de nicotina, mas a maioria inalou THC, o ingrediente ativo da marijuana.
"Estou muito preocupado com a gravidade das lesões que vemos nos pacientes que sobrevivem e se recuperam a curto prazo, podendo ter consequências a longo prazo", afirmou o especialista à CBS.
De acordo com o relatório da Clínica Mayo, citado pela mesmo órgão de comunicação norte-americano, “seja o que for que esses usuários de cigarro eletrónico inalaram, queimaram seus pulmões com produtos químicos tão tóxicos quanto um acidente industrial”.
Face aos números, as autoridades apressam-se a proibir a venda de cigarros não convencionais, cujas vendas aumentam no mercado negro.
Segundo a agência France Press (AFP), este é tipo de cigarros preferido dos mais jovens e o escolhido por um quarto dos estudantes do secundário.
Na Índia, o impacto na saúde também já levou à proibição da venda de cigarros eletrónicos e, em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) recomenda aos médicos que comuniquem às autoridades de saúde casos de doentes com sintomas respiratórios agudos que suspeitem estar ligados ao consumo deste tipo de cigarros.
É uma das cinco recomendações emitidas pela SPP na sequência do número crescente de casos de doença respiratória grave de causa desconhecida, mas associada ao uso de cigarros eletrónicos, nos últimos meses nos Estados Unidos.