04 out, 2019 - 13:09 • Agência Lusa
O número de mortos vítimas da repressão de manifestantes no Iraque aumentou para 42, numa altura em que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos defende um “rápido” inquérito sobre os protestos que considera "legítimos".
O Alto Comissariado pediu esta sexta-feira que seja aberto um inquérito “transparente” à repressão perpetrada pelas forças de segurança contra os manifestantes que estão nas ruas em vários pontos do Iraque desde o início da semana, em protesto contra a corrupção e pela melhoria das condições de vida dos cidadãos.
As Nações Unidas consideram que as exigências dos manifestantes “são legítimas".
“Apelamos ao governo iraquiano para que permita à população exercer o direito de expressão e de reunião pacífica”, disse a porta voz do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Marta Hurtado, durante uma conferência de imprensa em Genebra.
“Estamos preocupados com as informações que indicam que as forças de segurança utilizaram balas reais e lançaram granadas de gás lacrimogéneo diretamente contra os manifestantes”, acrescentou a porta-voz.
O movimento de contestação que teve origem em Bagdade, a capital, na segunda-feira pede medidas para combater o desemprego entre os jovens e o afastamento dos dirigentes corruptos.
De acordo com a Comissão de Direitos Humanos do governo iraquiano morreram até ao momento 42 pessoas, entre aos quais três membros das forças de segurança.
As mesmas informações sobre o balanço provisório de vítimas são confirmadas por fontes hospitalares de Nasiriyah (sudeste) que reportaram a existência de vítimas na cidade, fazendo aumentar o número de mortos desde que começaram os protestos.
“Todos os incidentes nos quais as ações das forças de segurança causaram mortos e feridos devem ser investigados de forma rápida, independente e transparente”, sublinhou a porta-voz da ONU.
“O uso da força deve ser excecional. A utilização de armas de fogo está interditada, salvo em situações de proteção contra ameaças de morte”, recordou Marta Hurtado.
Segundo o Alto Comissariado, as exigências “são legítimas”, sendo que a maior parte dos manifestantes são jovens desempregados que pedem respeito pelos direitos económicos e sociais.
As Nações Unidas mostram também preocupação contra a detenção de, pelo menos, três jornalistas (dois foram, entretanto, libertados) e pelas restrições ao uso da internet.
“Os cortes generalizados na rede de internet são suscetíveis de atentar contra a liberdade de expressão, contra o direito de receber e comunicar informações, uma situação que pode igualmente exacerbar as tensões”, concluiu a porta-voz da ONU.
O primeiro-ministro iraquiano pediu hoje aos manifestantes que protestam contra o governo desde terça-feira para abandonarem as ruas e aceitarem a legitimidade do Executivo, referindo-se às medidas de segurança que foram impostas no país.
“As medidas de segurança que estão a ser adotadas, incluindo o recolher obrigatório temporário, são decisões difíceis. Mas, tal como os ‘remédios amargos’, são inevitáveis”, disse, sublinhando que os cidadãos “têm de respeitar a lei” para que a normalidade seja restabelecida nos vários pontos do Iraque.
Num discurso transmitido pela televisão estatal, Adel Abdul-Mahdi defendeu as forças de segurança, afirmando que a escalada da tensão provocada pelos manifestantes faz aumentar a violência.
Sem especificar, disse que “lamenta verificar que alguns tenham conduzido os manifestantes para fora dos caminhos pacíficos”, explorando, frisou, “intenções políticas” que não foram detalhadas.
Apesar da mensagem do primeiro-ministro, dezenas de manifestantes mantêm-se neste momento no centro da capital e muitos encontram-se acampados em várias ruas da zona.
De momento nenhum partido ou movimento político iraquiano se envolveu diretamente com a organização dos protestos apesar de terem demonstrado solidariedade para com as vítimas da repressão e com os objetivos dos protestos.
As manifestações são sobretudo dirigidas contra o governo do primeiro-ministro, formado em 2018, e que tem implementado medidas de âmbito económico num país marcado por conflitos armados e pela má gestão dos recursos naturais como o petróleo.