06 out, 2019 - 16:19 • Lusa
O Governo iraquiano anunciou este domingo uma série de medidas sociais em resposta às reivindicações dos manifestantes e para tentar acabar com a contestação no país, iniciada na terça-feira e que já provocou perto de 100 mortos.
À saída de um conselho extraordinário, o executivo de Adel Abdel Mahdi anunciou um decreto com 17 medidas sociais, que vão da ajuda ao alojamento à atribuição de pensões aos jovens sem emprego.
Aprovaram-se ajudas de 175.000 dinares (à volta de 136 euros) durante três meses para 150.000 desempregados e pessoas sem possibilidade de trabalhar e decidiu-se o lançamento de um programa de formação para 150.000 desempregados.
Foi ainda decidida a construção de 100.000 habitações, depois de em setembro as autoridades locais de várias regiões do país terem iniciado a destruição de casas situadas em bairros clandestinos, onde vivem três milhões de iraquianos, que construíram sem autorização em terrenos do Estado.
O executivo ordenou também a instalação de espaços para os vendedores ambulantes, numa tentativa de criar empregos, nomeadamente entre os jovens, dos quais um quarto está desempregado no Iraque.
O desemprego dos jovens é a primeira reivindicação dos protestos que decorrem há quase uma semana e uma questão sensível no Iraque, onde um jovem se imolou em setembro em Kut (sul) após lhe ter sido confiscado o seu carrinho de venda ambulante.
Além disto, as autoridades, que acusam “sabotadores” e “homens armados não identificados” infiltrados de dispararem sobre os manifestantes e as forças de segurança, anunciaram que registaram as pessoas mortas nos protestos na lista de “mártires”, o que dará aos seus familiares o direito de pedir indemnizações.
De acordo com a Comissão governamental dos Direitos Humanos, pelo menos 99 pessoas foram mortas e perto de 4.000 ficaram feridas durante os protestos exigindo emprego, serviços públicos e o combate à corrupção.
ONU apela ao fim da violência
A Organização das Nações Unidas apelou este domingo ao fim da violência no Iraque.
“Cinco dias de mortos e feridos (...) É preciso parar (...) Os responsáveis pela violência devem ser responsabilizados”, escreveu a chefe da missão da ONU no Iraque, Jeanine Hennis-Plasschaert, na rede social Twitter.
Segundo a agência Associated Press, a comissão dos Direitos Humanos do Iraque estima que já morreram 94 pessoas, e quase quatro mil ficaram feridas, desde terça-feira, quando teve início o movimento de protesto contra a corrupção, o desemprego e a degradação dos serviços públicos.
A contestação ao Governo de d'Adel Abdel Mahdi está a ser organizada através das redes sociais, havendo denúncias da Amnistia Internacional (AI) de uso de armas letais pelas forças governamentais em operações de repressão.
A escalada nos protestos e na repressão policial levou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a apelar para o diálogo entre o Governo e os manifestantes.
Guterres pediu medidas imediatas para diminuir a tensão e reafirmou que "a liberdade de expressão e os protestos pacíficos são um direito fundamental que deve ser respeitado".
O Governo iraquiano decretou, entretanto, o estado de alerta e o recolher obrigatório na capital e em três províncias iraquianas: Nayaf (sul), Bagdad (centro) e Maysan (sudeste).
O acesso à Internet está parcialmente bloqueado em todo o território. Apesar da declaração do recolher obrigatório pelo Governo, muitos continuaram a dirigir-se em direção à capital, transportados em camionetas.
Esta quinta-feira, o líder xiita iraquiano Moqtada Al-Sadr exigiu a demissão do Governo de d'Adel Abdel Mahdi e a marcação de eleições antecipadas.