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Após anúncio de Trump, Turquia inicia operação contra curdos no nordeste da Síria

09 out, 2019 - 14:34 • Filipe d'Avillez

Começou a operação militar da Turquia na vizinha Síria. Forças Democráticas da Síria falam em situação de pânico perante ataques aéreos e de artilharia.

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Após anúncio de Trump, Turquia bombardeia nordeste da Síria
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A Turquia iniciou esta quarta-feira o ataque ao nordeste da Síria. Por volta das 14h30, aviões turcos começaram a bombardear posições naquele território, que é dominado pelas Forças Democráticas da Síria, uma coligação de forças de diferentes etnias e religiões, onde predominam as milícias curdas.

Ancara não aceita a presença de grupos armados curdos perto da sua fronteira, pois considera que são uma mera extensão do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) que leva a cabo uma insurreição na Turquia há décadas.

O início das operações foi anunciado oficialmente pelo Presidente Erdogan, que diz que o objetivo é eliminar o "corredor terrorista" junto à sua fronteira.

As autoridades turcas dizem que pretendem criar uma "zona segura" junto à sua fronteira, onde pretendem depositar vários milhares de refugiados sírios que têm procurado abrigo na Turquia. O estabelecimento de comunidades sírias árabes na região servirá ainda de tampão entre a Turquia e a comunidade curda na Síria, entretanto empurrada mais para sul, ou mesmo para fora do país.

As primeiras noticias dão conta de ataques aéreos e de artilharia a posições militares das Forças Democráticas da Síria, nomeadamente da milícia curda YPG, atingindo depósitos de armas e peças de artilharia.

As Forças Democráticas da Síria referem também ataques a civis e falam numa situação de pânico entre a população da cidade de Ras al-Ain, Tel Abyad e Qamishli. As FDS pedem que a comunidade internacional imponha uma zona de exclusão aérea para impedir a escalada da violência. Segundo as autoridades locais já há relatos de vítimas civis.

Estes ataques devem preceder uma incursão terrestre, composta por forças turcas e também por milícias jihadistas apoiadas pela Turquia e compostas em larga medida por sírios e jihadistas estrangeiros. Pouco depois do início do ataque o Exército Nacional Sírio, apoiado pela Turquia, apelou aos seus militantes para "atingir os inimigos com um punho de aço, façam-nos sentir o inferno dos vossos fogos". O comunicado disse que os militares não deviam ter qualquer misericórdia para com os soldados das FDS, a não ser que se juntem aos invasores, indica a Reuters.

Donald Trump abriu o caminho para o ataque turco ao mandar retirar algumas dezenas de observadores que tinha no local, abandonando assim os seus aliados das FDS que conseguiram este ano derrotar territorialmente o autoproclamado Estado Islâmico, com o apoio aéreo e logístico de países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos.

Perante as críticas Donald Trump ainda ameaçou a Turquia com repercussões económicas se fosse para além do que ele considera razoavel, mas ao mesmo tempo responsabilizou os turcos pelo destino de 12 mil detidos do Estado Islâmico que estão em prisões no nordeste da Síria, atualmente guardados por militares das FDS, mas isso só é possível se a Turquia invadir de facto o território.

A posição de Trump tem sido muito criticada até por alguns dos seus maiores apoiantes, incluindo o senador Lindsey Graham, que anunciou esta quarta-feira, depois do início do ataque turco, que iria introduzir um pacote de sanções "devastadoras" contra o regime de Erdogan. Graham acredita que o Congresso conseguirá o número suficiente de votos para ultrapassar um eventual veto presidencial.

Ancara já mandou chamar o embaixador dos Estados Unidos na Turquia, para lhe dar informações sobre as operações em curso.

Rússia não se envolve, Comissão Europeia "compreende"

Com o início do ataque, a Rússia já veio anunciar oficialmente que não se vai envolver no conflito, deixando assim as Forças Democráticas da Síria sem aliados poderosos no combate contra a Turquia.

A Rússia apoia o regime de Bashar al-Assad, mas este não reconhece a autonomia no nordeste da Síria e desconfia do projeto democrático que está em curso na região, assente na promoção e no respeito pela variedade étnica e religiosa.

Depois de os Estados Unidos terem anunciado a retirada da Síria houve especulação sobre uma eventual aliança com a Rússia e com o regime de Damasco, mas essa possibilidade parece agora gorada.

O Irão, que também apoia Assad e avisou a Turquia para o perigo de invadir território sírio, não deverá agir fora de sintonia com Moscovo e Damasco.

A Comissão Europeia fez uma curta declaração, por via da sua porta-voz Mina Andreeva, reconhecendo que a Turquia tem "preocupações securitárias junto da sua fronteira que devemos compreender".

A Comissão pede a Ancara, contudo, que evite exacerbar "o sofrimento civil".

Já França, que chegou a prometer não abandonar os aliados curdos caso os EUA retirassem, disse que iria pedir, juntamente com o Reino Unido, uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Itália também já veio lamentar que o efeito desestabilizador que os ataques vão ter na Síria, mas o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que os turcos lhe tinham assegurado que a sua incursão seria cautelosa e proporcional.

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