14 out, 2019 - 14:53 • Reuters
Os líderes da milícia curda que domina as Forças Democráticas da Síria dizem que o acordo a que chegaram com o regime de Bashar al-Assad é apenas de natureza militar e que as conversações políticas virão mais tarde.
O acordo foi anunciado no domingo e permite a entrada imediata de forças leais ao regime da Síria em cidades próximas da fronteira com a Turquia. O objetivo é travar a incursão turca no nordeste da Síria, iniciada na terça-feira da semana passada com o objetivo de derrotar e deslocar as Forças Democráticas da Síria, em particular a milícia curda YPG que a Turquia acusa de ser uma extensão do PKK, um grupo curdo que tem levado a cabo uma insurreição contra o Estado turco há décadas.
Apoiados pela Rússia e pelo Irão, os soldados leais a Assad formarão uma barreira que Ancara não se atreverá a atacar, uma vez que não pretende entrar em conflito com a Rússia, uma das grandes apoiantes do Presidente sírio.
Os líderes da região do nordeste da Síria, que era de facto autónoma há vários anos, viram-se forçados a chegar a acordo depois de terem sido abandonados pelos seus aliados americanos. Contudo, o acordo poderá custar caro aos curdos e seus aliados, uma vez que a Síria não quer aceitar o projeto de autonomia naquela região, deixando os curdos numa posição muito fragilizada para a poder negociar.
“A prioridade agora era travar os ataques turcos ao longo da fronteira. Os pontos mais complexos necessitarão de um diálogo longo e direto”, afirmou à Reuters o político curdo Aldar Xelil.
Reconhecendo a dificuldade inerente à sua posição, Xelil acrescenta que “estamos em contacto com o Governo de Damasco para chegar a um acordo no futuro”.
Explicador
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Ao longo dos últimos oito anos os curdos, cristãos, árabes e membros de outras minorias no nordeste da Síria têm conseguido estabelecer um estado autónomo que funciona com base no respeito pelas identidades étnicas e religiosas das diferentes comunidades que vivem na zona. Todas as comunidades estão representadas nos órgãos políticos, que são eleitos, e para cada cargo existe um homem e uma mulher que trabalham em conjunto.
No ensino, por exemplo, foi descartado o currículo imposto por Damasco e cada comunidade tem a possibilidade de lecionar na sua própria língua, seja o árabe, o curdo, o arménio ou o siríaco.
O regime de Assad, muito mais centralizador, teme a promoção das diferentes identidades dos povos que constituem a síria, vendo nisso uma ameaça ao seu controlo.
“Onde existem maiores diferenças é em assuntos ligados à linguagem, aos currículos escolares e à autonomia militar, tudo mecanismos de governo próprio”, refere à Reuters o Joshua Landis, do Centro de Estudos do Médio Oriente na Universidade do Oklahoma.
Segundo o acordo agora alcançado os militares das FDS abandonarão as cidades onde vai chegar o exército sírio, mas não desmobilizam, ficando nas zonas rurais.