15 out, 2019 - 14:19 • Filipe d'Avillez
O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, não desiste do seu objetivo de formar um “corredor de segurança” na fronteira entre a Síria e o seu país, apesar da entrada em cena de forças leais ao regime de Bashar al-Assad, que são apoiadas pela Rússia.
Depois de terem chegado a acordo com as Forças Democráticas da Síria, as forças leais ao regime começaram a entrar em várias cidades que anteriormente estavam nas mãos das milícias curdas e seus aliados cristãos e árabes, incluindo Kobani, que fica na fronteira com a Turquia, e Qamishli.
Para a Turquia prosseguir com o seu objetivo seria necessário expulsar as Forças Armadas Sírias, mas a Rússia já disse que não vai permitir que isso aconteça, deixando um aviso a Erdogan.
A entrada de forças sírias e russas – confirmada por Moscovo – segue-se à retirada em definitivo das forças norte-americanas da Síria, incluindo de uma base nos arredores de Kobani.
As tropas dos EUA terão coordenado a sua saída com a Rússia para que tudo corresse bem, levando Joshua Landis, analista no Centro de Estudos do Médio Oriente na Universidade do Oklahoma, e especialista no conflito na Síria, a comentar que os norte-americanos se tornaram agora efetivamente aliados do regime de Assad e dos russos na região.
“Os EUA podiam ter poupado a si próprios e à Síria oito anos de combates se se tivessem alinhado com Assad no início. Não teria conduzido à mesma situação em termos estratégicos? Centenas de milhares de mortes por quê? Um erro de cálculo?”, pergunta Landis no Twitter.
Noutra publicação, o analista acusa o Governo de Donald Trump de ter conseguido a pior situação possível no Médio Oriente com o abandono dos curdos, que conduziu à invasão turca e à aliança entre curdos e o regime sírio, reforçando o poder da Rússia e do Irão na região e vendo-se forçado a impor sanções a um importante aliado da NATO, a Turquia.
Com os Estados Unidos a impor sanções ao seu país e a vários elementos do seu Governo, Erdogan começa assim a ver ameaçado o seu plano de estabelecer uma zona segura que efetivamente cortaria a ligação entre os curdos sírios e os que vivem na Turquia.
O Presidente turco pretendia construir zonas residenciais do lado sírio da fronteira, para onde enviaria milhões de sírios, na sua maioria árabes, que desde o início da guerra estão a viver como refugiados em solo turco.
Ao longo das últimas horas, surgiram também indicações de que as Forças Democráticas da Síria terão conseguido expulsar as milícias pró-turcas de várias vilas e cidades, incluindo Ras al-Ayn – conhecida também como Sere Kaniye – que se tem tornado um símbolo da resistência à ocupação turca.
Segundo fontes próximas dos curdos, as milícias pró-turcas viram-se obrigadas a recuar para a Turquia em busca de reforços.
Se plantássemos uma flor chamavam-lhe terrorista
O plano de Erdogan de invadir a Síria tem sido bem recebido internamente, com manifestações de apoio entre a população, chegando à seleção de futebol, que nos últimos dois jogos celebrou golos fazendo continência para as bancadas.
Mas onde as tropas turcas não são populares é nas zonas curdas da Turquia.
Quatro autarcas curdos foram detidos esta terça-feira em raides dirigidos a membros do partido pró-curdo HDP, que o regime acusa de ser próximo do PKK, um grupo terrorista que há décadas luta contra o Governo turco.
Entre os detidos está Pervin Buldan, que acusa o Presidente turco de estar a levar a cabo a invasão apenas para melhorar os seus índices de apoio internos. Para esta dirigente tudo não passa de uma operação de repressão contra os curdos.
“A inimizade turca contra os curdos continua, agora em solo sírio”, disse. “Se os curdos plantassem uma flor num vaso os turcos chamavam-lhe um vaso terrorista e atacavam-no com carros de combate e canhões”, disse.
O HDP diz que foram detidos 151 dos seus membros na última semana.