16 out, 2019 - 21:04
O presidente da organização Human Rights Watch (HRW), Kenneth Roth, manifestou esta quarta-feira, em São Paulo, uma extrema preocupação com as políticas adotadas pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que considerou serem contra os direitos humanos.
"A Human Rights Watch está profundamente preocupada com a política contra os direitos [humanos] do Governo Bolsonaro. Vemos isto de várias formas, porque ele [Bolsonaro] deu sinal verde para a polícia matar pessoas sem justificação. Ele reforçou políticas que minam o combate ao problema brasileiro da tortura sistemática", declarou numa conferencia de imprensa.
O dirigente da organização de defesa de direitos humanos acusou o Presidente brasileiro de atacar “jornalistas e ativistas civis”.
“Nós vemos, na Amazónia, ele [Bolsonaro] a posicionar-se a favor dos desflorestadores e, por isto, a desflorestação e as queimadas aumentam. De muitas maneiras ele opõe-se aos direitos humanos", acrescentou.
Kenneth Roth contou que representantes da direção da HRW estão pela primeira vez reunidos no Brasil e que tentaram marcar reuniões com membros do Governo, incluindo com Jair Bolsonaro e com o ministro da Justiça, Sergio Moro, mas ambos se recusaram a recebê-los. "Ficamos desapontados que o Presidente Bolsonaro, que luta contra os direitos humanos, não aceite conversar frente a frente connosco para que pudesse justificar as políticas que defende", afirmou.
A organização, frisou Roth, está alarmada com um conjunto de tendências perigosas patrocinadas pelos governantes do país contra os direitos humanos e, por isto, decidiu reunir o seu conselho internacional no Brasil. "Não quero fingir que não há democracia no Brasil. Estamos preocupados porque o Presidente Bolsonaro está a atacar muitos elementos que tornam o Brasil uma grande democracia e isto é um plano que já vimos em muitos outros lugares no mundo", argumentou.
O dirigente da HRW notou que há governos no mundo eleitos com agendas “contra os direitos humanos”. “Vimos isso nos Estados Unidos, na Hungria, no Egito, nas Filipinas, na Rússia. Não queremos que o Brasil siga os caminhos destes países que acabei de mencionar", completou.
O presidente da HRW fez questão de mencionar que não contesta a legitimidade do chefe de Estado brasileiro, mas critica as suas posições em relação ao cumprimento das leis internacionais para os direitos humanos. "Ele [Bolsonaro] foi eleito e nós respeitamos este resultado, mas também é importante reconhecer que isto não lhe dá liberdade de ferir os direitos humanos. Um Presidente, porque foi eleito, não está acima da lei", frisou.
Roth também disse acreditar que os direitos dos brasileiros estão em risco e isto coloca em perigo também a vitalidade da democracia no país. "O Brasil continuará a ser uma democracia forte ou vai abraçar a política contra os direitos humanos defendida pelo Governo Bolsonaro?", questionou.
O presidente da HRW disse "que o vencedor de uma eleição tem que aceitar que está limitado pelas leis e pelos direitos humanos” e acusou: “O Presidente Bolsonaro parece não aceitar isto, ele está a tentar criar uma ditadura eleita na qual ele pode comandar tudo."
O único representante do Governo que conversou com a delegação da organização não-governamental foi o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Sobre a reunião, o presidente da HRW comentou que Ernesto Araújo defendeu as políticas de combate à violência e para preservação da Amazónia.
O ministro, no entanto, segundo Kenneth Roth, negou falta de empenho do Governo para enfrentar o problema da ausência de punições para os responsáveis pela desflorestação e do corte de investimento nas equipas dos órgãos de preservação ambiental relatadas num documento da HRW.
A organização identificou grupos criminosos a atuar para destruir a maior floresta tropical do mundo no Brasil, beneficiando da falta de fiscalização e punição.
"[Ernesto Araújo] disse que não era a posição do Governo brasileiro [defender os responsáveis pela desflorestação]. Eu disse tudo bem, então prove que o Brasil reconhece o problema das mudanças climáticas, a importância da Amazónia, dos defensores da floresta, e das comunidades que vivem lá em paz. Estas são coisas que o Governo do Brasil precisa fazer, mas que ainda não fez", concluiu Roth.