07 nov, 2019 - 07:10 • Lusa
A ONU vai avançar em 2020 com um Plano de Resposta Humanitária para responder à crise na Venezuela, um projeto que conta com o apoio do Governo e da Assembleia Nacional (parlamento, onde a oposição tem maioria).
O anúncio é feito em comunicado divulgado em Caracas pelo secretário-geral dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas, Marck Lowcock, ao finalizar uma visita de três dias à Venezuela.
"Foi preparado um Plano de Resposta Humanitária para responder às necessidades humanitárias mais graves. Este plano foi totalmente apoiado pelo Governo da Venezuela e pela Assembleia Nacional. Recebi compromissos firmes de que apoiarão a implementação do plano, em benefício dos venezuelanos mais vulneráveis de todo o país", refere o comunicado.
Segundo o documento, no próximo mês a ONU vai divulgar "planos provisórios" para a resposta humanitária, para os quais são necessários recursos e financiamento adicional.
"É pouco provável que os recursos internacionais sejam suficientes para estabilizar a situação humanitária. Teremos de encontrar uma forma de libertar os recursos venezuelanos para contribuírem mais para a ação humanitária (…). Isso exigirá que as partes interessadas deem maior prioridade à redução do sofrimento imediato da população", explica.
O documento precisa que a ONU recebeu 135 milhões de euros, mas que o Plano de Resposta Humanitária à Venezuela é de aproximadamente 200 milhões de euros.
Marck Lowcock adianta ter pedido às autoridades que facilitem o acesso das organizações humanitárias e não-governamentais, e a incorporação de pessoal especializado, assim como a redução das restrições burocráticas para a entrega de ajuda, o apoio à monitorização independente e a melhoria dos dados para garantir ajuda aos mais necessitados.
O comunicado explica que "todas as partes devem respeitar" a abordagem humanitária da ONU "e não manipular a assistência baseada nas necessidades".
"O sofrimento humano não é uma arma política."
"O sofrimento humano não é uma arma política. Continuaremos a monitorizar a prestação de assistência para garantir que seja transparente e em conformidade com avaliações independentes", sublinha.
Marck Lowcock adianta ter visto como adultos e crianças "enfrentam enormes desafios para sobreviver todos os dias" e que "milhões de pessoas" não têm acesso a "um mínimo de alimentos, água e assistência médica", naquele que já foi o país mais rico da América Latina.
"Observei que o sistema de saúde está à beira do colapso e que muitos hospitais carecem da infraestrutura básica de água e eletricidade. Os pacientes hospitalizados, muitos deles já gravemente doentes, correm alto risco de perder a vida devido a novas infeções que contraem enquanto estão no hospital, uma vez que não é possível realizar limpeza e desinfeção básica", observa.
Segundo o coordenador da assistência humanitária da ONU, isto "agrava-se com a falta de medicamentos e a escassez de médicos e enfermeiros para os administrar".
"Doenças evitáveis, como a malária e a difteria, regressaram com grande força", sublinha, referindo o caso de um hospital em que os medicamentos são escassos, os apagões fizeram que apenas um quinto do hospital tenha eletricidade e a água chega somente dois dias semanais, e que os canos danificados emitem um fedor desagradável.
"Foi-me dito que alguns trabalhadores do hospital gastam mais do que o seu salário mensal apenas para ir trabalhar", nota Marck Lowcock.