14 dez, 2019 - 09:54 • José Pedro Frazão , Filipe d'Avillez , em Madrid, com redação
A cimeira COP 25 para o clima, que se realiza em Madrid, entrou este sábado em período de descontos, mas os indícios que chegam do plenário não são positivos e existe muito pessimismo quanto à possibilidade de sequer haver acordo..
A cimeira deveria ter terminado na sexta-feira, mas decidiu-se prolongar por mais uma manhã. Ao cair da noite de sexta, antes de as delegações partirem para reuniões à porta fechada, tudo indicava que o principal desentendimento prendia-se com o mercado do carbono, mas este sábado, com o retomar do plenário, tornou-se claro que há muito mais pontos de discórdia.
Ainda nem a questão do carbono tinha chegado à mesa e já havia opiniões divergentes sobre as propostas para a ambição, isto é, os apelos a um esforço acrescido para a redução de emissões de CO2, como tem sido reclamado pela sociedade civil, alguns líderes políticos e o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, que também se encontra em Madrid.
A delegação da União Europeia declarou que as partes não podem sair de Madrid "sem uma forte mensagem de ambição".
"É algo que, no exterior, esperam de nós, e nós temos que ouvir esse apelo", afirmou a porta-voz da delegação, defendendo que o projeto de declaração final "precisa de ser fortalecido e o nível de ambição tem que ser mais elevado".
A delegação mexicana notou também que no rascunho de resolução "não há referência a um dos feitos mais aplaudidos" da conferência: "a adoção de um novo plano de ação para o género, que leve em conta os direitos humanos e os desafios que as comunidades locais e os povos indígenas enfrentam".
Do mesmo modo, a delegação do Belize assinalou que "esta era a COP da ambição, mas não se vê", acrescentando que "as referências à ciência foram enfraquecidas e todas as referências a reforçar as contribuições nacionais desapareceram".
O Brasil manifestou "profundo desconforto" com a inclusão no texto de uma proposta para aprofundar o debate sobre os efeitos das alterações climáticas em terra, entendendo que "não há razão para prosseguir esta discussão", que se debruça sobre gestão de florestas e outros temas.
"Queremos que se apague qualquer proposta nesse sentido, e não estamos sozinhos nessa posição", tratando-se de "uma linha vermelha" para a representação do Brasil e para países como a Argentina ou o Uruguai.
Arábia Saudita e Rússia manifestaram-se contra a posição brasileira, defendendo que não há razão para manter no texto referências aos efeitos do aquecimento global nos oceanos e retirar as que dizem respeito aos efeitos em terra.
Perante este cenário, não é claro que haja sequer um acordo, o que seria visto como um falhanço da cimeira e deixará os países participantes expostos a grandes críticas dos movimentos ambientalistas,alguns dos quais falam já em "desastre total".
[Notícia atualizada às 13h59]