19 dez, 2019 - 13:28 • Filipe d'Avillez
Uma mulher inglesa viu ontem confirmado por um tribunal o seu despedimento por causa de uma série de mensagens no Twitter em que questionava legislação que permite às pessoas identificarem-se como sendo de outro género que não o seu sexo biológico.
Maya Forstater, de 45 anos, foi despedida do “Centre for Global Development”, uma ONG dedicada a combater a pobreza e a desigualdade, depois de ter escrito que “pessoas do sexo masculino não são mulheres”.
Os tweets seguiram-se a uma disputa com um cliente, Gregor Murray, que alegava que estava a ser tratado com pronomes masculinos quando ele se identifica como “não binário” e pede para ser tratado pelos pronomes “they” e “them”, o que em português seria traduzido por “eles”, mas em inglês é um termo neutro. Murray acusou Forster de “transfobia” por identificá-lo como um homem.
“Eu discordo. Na realidade Murray é um homem. Ele tem o direito a acreditar que não é um homem, mas não pode obrigar os outros a acreditar no mesmo”. Acrescentou que tem o direito a tratar pessoas do sexo masculino por “Ele” [“he” e “him”]. “Embora possa optar por usar pronomes alternativos como cortesia, ninguém tem o direito a obrigar outros a fazer afirmações em que não acreditam”.
Descontente com a razão do despedimento levou o caso a tribunal, argumentando que tem direito à sua opinião. O juiz do Tribunal do Trabalho, contudo, discordou.
“Concluo, com base em todas as provas, que a requerente é absolutista na sua visão de sexo e que no cerne desta sua crença está a convicção de que se referirá a uma pessoa pelo sexo que ela considera apropriado, ainda que isso viole a sua dignidade e/ou crie um ambiente intimidatório, hostil, degradante, humilhante ou ofensivo. Esta abordagem não é digna de respeito numa sociedade democrática”, escreveu o juiz.
Na sua decisão o juiz disse ainda que a opinião da queixosa, de que não é possível mudar de sexo, é “incompatível com a dignidade humana e com os direitos dos outros”.
Maya Forstater mostrou-se incrédula com a decisão. “Tenho dificuldade em expressar o choque que sinto ao ler esta decisão”, afirmou, em declarações reproduzidas pelo jornal inglês “Daily Telegraph”.
“Esta decisão infringe os direitos das mulheres e o direito à liberdade de crença e de discurso”, concluiu, dizendo que está agora a decidir se vai recorrer da decisão.
Esta quinta-feira a requerente recebeu um apoio de peso. A autora da saga Harry Potter escreveu no Twitter: "Veste-te como quiseres. Chama-te como quiseres. Dorme com qualquer adulto que te aceite com consentimento. Vive a tua melhor vida com com paz e segurança. Mas despedir mulheres por afirmar que o sexo é uma realidade?" terminando com o hashtag "#IStandWithMaya", que significa, "Eu estou com a Maya".
Na sua conta pessoal do Twitter Maya Forstater retweetou a mensagem de Rowling, comentando. "Ai meu Deus! Estamos todos a chorar. Isto é tudo o que eu queria para o Natal."