02 jan, 2020 - 14:38 • Filipe d'Avillez com Reuters
Centenas de milhares de sírios que vivem na região de Idlib, que ainda está nas mãos dos rebeldes, estão a caminho da Turquia, fugindo assim do avanço das forças leais a Bashar al-Assad, apoiadas por militares russos.
A situação está a ser encarada com alarme pela Turquia, que já alberga perto de três milhões de sírios que fugiram durante a guerra civil que dura há quase nove anos.
“Neste momento 200.000 a 250.000 pessoas estão a caminho das nossas fronteiras”, disse Erdogan numa conferência em Ancara. “Estamos a tentar algumas medidas para os impedir, mas não é fácil. Também são seres humanos.”
O Presidente da Turquia já advertiu a Europa de que esta poderá ter de lidar com as consequências caso esta vaga não seja travada.
Também a ONU tem manifestado apreensão pela vaga de novos refugiados, sobretudo pelo facto de o inverno estar a começar, o que piora a situação de vulnerabilidade dos que se encontram fora das suas casas. “A deslocalização durante o inverno está a exacerbar a vulnerabilidade dos afetados. Muitos dos que fugiram estão a precisar de ajuda humanitária urgente, sobretudo abrigo, comida, saúde e assistência não-alimentar para o inverno”, diz um relatório do Gabinete de Coordenação para Assuntos Humanitários da ONU.
Entrevista a Nazira Goreya, fundadora da União das Mulheres Siríacas
O alerta é feito por Nazira Goreya, fundadora da U(...)
A região de Idlib, junto à fronteira entre a Síria e a Turquia é o último bastião rebelde do país mas as forças do regime têm ganho terreno e estão a atacar as cidades e aldeias há meses, numa tentativa de finalmente acabar com a guerra civil e assegurar a integridade territorial do país.
Ao longo dos últimos anos da guerra civil, à medida que as forças leais ao regime foram cercando bolsas de rebeldes estes foram sendo transferidos, ao abrigo de acordos mediados pela Rússia e pela Turquia, para Idlib. Agora que todo o resto do país já está controlado por Assad, o cerco definitivo ao último reduto dos rebeldes já começou.
Mas a operação militar arrisca ainda voltar a colocar a Rússia e a Turquia numa situação de conflito direto. A Turquia, que tem apoiado ativamente os grupos rebeldes na região de Idlib, a maioria dos quais são de inspiração jihadista, opera 12 postos de observação na zona e já disse que está fora de questão que estes sejam abandonados.
À medida que os bombardeamentos sírios e russos intensificam aumenta a probabilidade de um incidente. A Turquia e a Rússia já estão numa situação tensa no nordeste da Síria, que a Turquia invadiu em Outubro, e ao longo dos últimos anos não tem havido falta de incidentes entre as forças dos dois países.
Recentemente abriu-se a perspetiva de um novo palco em que os dois países vão estar de lados contrários, com a Turquia a anunciar que vai enviar forças militares para apoiar o Governo internacionalmente reconhecido da Líbia, contra o avanço de forças rebeldes que são apoiadas pela Rússia.