06 jan, 2020 - 22:41 • Redação com Lusa
O secretário da Defesa dos Estados Unidos da América, Mark Esper, negou esta segunda-feira a decisão de retirar os militares destacados no Iraque, apesar de o exército norte-americano ter enviado uma carta ao comando militar iraquiano a informar desta intenção. “Não foi tomada qualquer decisão para sair do Iraque. Essa carta não corresponde ao nosso estado de espírito”, vincou Mark Esper, citado por várias agências noticiosas.
De acordo com a carta enviada, consultada pela France-Presse, o exército norte-americano referiu que iria “reposicionar” as forças da coligação internacional com vista a uma “retirada do Iraque de maneira segura e eficaz”.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas norte-americanas, general Mark Milley, avançou também que “a carta é autêntica”, mas que “foi enviada por erro”.
Dois dirigentes militares, um norte-americano e outro iraquiano, confirmaram à agência noticiosa francesa a autenticidade do documento, assinado pelo general William H. Seely, comandante das operações militares norte-americanas no Iraque.
“Respeitamos a vossa decisão soberana que ordena a nossa saída”, asseverou-se no texto, depois de uma votação no parlamento, que exortou o Governo a expulsar as tropas estrangeiras do Iraque, depois do assassínio do general iraniano Qassem Soleimani e de um comandante militar iraquiano próximo do Irão, Abou Mehdi al-Mouhandis, na sexta-feira, em Bagdade, por instruções da Casa Branca. “Por respeito para com a soberania da República do Iraque, e como solicitado pelo parlamento e pelo primeiro-ministro, a coligação vai reposicionar as suas forças, para garantir que a retirada do Iraque é feita de maneira segura e eficaz”, detalhou-se no documento.
Os EUA tinham cerca de 5.200 militares no Iraque, antes da chegada na semana passada de várias centenas de outros para proteger a embaixada na Zona Verde, um bairro de Bagdad com segurança reforçada, atacada na terça-feira por milhares de manifestantes pró-iranianos. Perante a subida das tensões, Washington tinha anunciado recentemente o envio entre 3.000 e 3.500 militares para a região, “muito provavelmente” para mandar alguns para o Iraque, segundo um dirigente norte-americano.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro iraquiano demissionário, Adel Abdel Mahdi, recebeu o embaixador norte-americano, Matthew Tueller, segundo o seu gabinete. Abdel Mahdi insistiu na “necessidade de trabalhar em conjunto para retirar as forças estrangeiras do Iraque, como reclamou o parlamento, para as relações com os EUA repartirem em boa base”, ainda segundo o seu gabinete.
A coligação formada para lutar contra o grupo que se designa por Estado Islâmico – que se apoderou em 2014 de um terço do território iraquiano e de grandes pedaços do sírio – ainda não reagiu. Não está claro que estes movimentos de tropas respeitam a todos os soldados dos 76 países que integram coligação.
UE pede a Washington e Teerão que evitem “ações irreversíveis”
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu hoje que Washington e Teerão se abstenham de "ações irreversíveis", garantindo usar "todos os contactos ao nível da União Europeia" (UE) para uma redução das tensões no Médio Oriente.
Numa publicação feita na rede social Twitter, Charles Michel indicou ter estado numa conversa telefónica com o secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, sobre a situação no Médio Oriente e na Líbia. “Concordámos com a necessidade de reduzir as tensões na região, que é do interesse de todas as partes”, referiu Charles Michel. E garantiu: “Continuarei a usar todos os contactos ao nível da UE e mais além para convencer as partes a absterem-se de ações irreversíveis”.
A situação na região está particularmente tensa desde que o general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, foi morto na passada sexta-feira, num ataque aéreo contra o carro em que seguia, ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e só terminou quando Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.
O Irão prometeu vingança e anunciou no domingo que deixará de respeitar os limites impostos pelo tratado nuclear assinado em 2015 com os cinco países com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas — Rússia, França, Reino Unido, China e EUA — mais a Alemanha, e que visava restringir a capacidade iraniana de desenvolvimento de armas nucleares. Os Estados Unidos abandonaram o acordo em maio de 2018.
Também hoje, através do Twitter, o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, anunciou uma conversa telefónica com António Guterres, na qual um dos assuntos abordados foi o Irão. “Tive um telefonema com António este fim de semana para discutir desenvolvimentos em assuntos como a Líbia, o Iraque e o Irão”, referiu o chefe da diplomacia europeia, sublinhando que “o multilateralismo e uma ordem global baseada em regras, com a ONU na sua essência, continua a ser a pedra angular da política externa da UE”.
No fim de semana, Borrell manteve uma conversa telefónica com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, tendo-o convidado para uma visita a Bruxelas, à luz dos mais recentes desenvolvimentos no Irão e no Iraque.