06 jan, 2020 - 16:53 • Redação
Os artistas da Ópera de Paris (ONP) estão em greve desde 5 de dezembro de 2019, em resposta a uma proposta do Governo francês que pretende alterar o sistema de reformas no país.
Esta alteração, de acordo com os trabalhadores da ONP, afetará fortemente as suas condições de reforma atuais, que estão em vigor desde 1698 e que permitem aos bailarinos aposentarem-se aos 42 anos.
A greve já levou ao cancelamento de 63 espetáculos, causando um prejuízo que ascende aos 12 milhões de euros, segundo números avançados pela agência de notícias francesa AFP.
Apesar de, como é possível verificar na página oficial da ONP, todos os espetáculos desde 5 de dezembro terem sido cancelados, na véspera de Natal, alguns bailarinos da companhia surpreenderam ao interpretar um excerto de O Lago dos Cisnes num palco improvisado sobre a escadaria do Palácio Garnier.
Uma semana depois, no último dia do ano, músicos da Orquestra da Ópera Nacional de Paris seguiram o exemplo, tocando nas escadas da Bastilha partes das óperas Carmen, de Bizet, A Danação de Fausto, de Berlioz, e Romeu e Julieta, de Prokofiev, tendo terminado, em conjunto com os espectadores ali presentes, a cantar o hino nacional francês, como noticiado pelo jornal "Le Figaro".
O diretor-geral da Ópera de Paris, Stéphane Lissner, em declarações à AFP, confirmou que esta greve, a mais longa já ocorrida na instituição, “provocou uma diminuição importante do fundo de reserva”, e que isso terá necessariamente consequências no futuro, nomeadamente pondo em causa “os investimentos para as próximas temporadas”.
Perante estas declarações, o ministro da Cultura francês, Franck Riester, respondeu que “as conversações estão a decorrer” para solucionar a questão, mas os artistas rejeitam esta visão, denunciando uma “postura de força” por parte do Governo de Macron.
A última grande greve ocorrida na Ópera de Paris, uma das mais antigas e prestigiadas companhia de espetáculos do mundo, foi em 2007, altura em que foram cancelados 17 espetáculos, que geraram um prejuízo de cerca de três milhões de euros.
França está a atravessar uma forte onda de contestação desde o início de dezembro, que já fechou escolas, paralisou os transportes e vários outros serviços, provocando ainda a demissão de um ministro, Jean-Paul Delevoye, apontado como o principal “mentor” destas alterações.