21 jan, 2020 - 16:36 • Henrique Cunha
O escritor Angolano José Eduardo Agualusa espera que "as pessoas que permitiram a ascensão de Isabel dos Santos em Portugal" também respondam perante a justiça.
Em declarações à Renascença, a partir de Luanda, o escritor alude à existência de "cúmplices da empresária" em Portugal que não podem alegar ignorância, face aos múltiplos alertas de várias personalidades angolanas. Agualusa diz que ele próprio, Rafael Marques e outras pessoas "andaram anos a escrever sobre o caso", pelo que "essas pessoas devem ser apresentadas à Justiça".
José Eduardo Agualusa não ficou surpreendido com a divulgação do caso "Luanda Leaks" e com o envolvimento da empresária Isabel dos Santos porque "muitas das revelações agora feitas já eram do conhecimento público". Para Agualusa, o único dado surpreendente nos últimos dias "é a surpresa das pessoas".
Agualusa acredita que a divulgação deste caso ajude a combater a corrupção e a pôr fim ao sentimento de impunidade sentido pelas altas esferas da sociedade angolana: “A boa notícia, neste processo, é que isto ajuda a combater a corrupção, até porque outras pessoas, a partir de agora, pensarão duas vezes antes de se meterem em processos de corrupção."
"Se uma pessoa como Isabel dos Santos, muito poderosa e com um império construído em diversos países, pode ser afetada desta maneira e pode arriscar-se a perder tudo o que tinha, depois destas revelações”, isso também pode “acontecer a qualquer um”, acresenta.
"Do ponto de vista profilático, isto é muito bom. Pode ajudar a criar uma outra sociedade, um outro pensamento", reforça Agualusa, destacando que “há a possibilidade de uma revolução de mentalidades a partir deste episódio”, porque “as lições a tirar dele são muitas".
"Euforia tensa" em Luanda
No rescaldo das revelações, o escritor deteta em Luanda uma atmosfera que caracteriza como de "euforia um pouco tensa", tanto mais que o caso, no plano dos envolvimentos, não se limita a Isabel dos Santos. "Outras pessoas podem estar implicadas neste caso”, argumenta, admitindo que haja em Angola "muita gente apreensiva", tal como "haverá também em Portugal".
A Isabel dos Santos, o escritor aconselha que regresse a Angola para responder perante a Justiça. Agualusa acredita que a empresária "corre o risco de ser presa em vários países europeus, pelo que seria melhor em vir para Angola, apresentar-se à Justiça e tentar negociar uma acusação".
Sobre o regime e ação política de João Lourenço, o escritor diz que "houve uma certa abertura democrática", mas há muito por fazer "no âmbito da justiça social".